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terça-feira, 24 de setembro de 2013

“Nossa ideia é voltar a operar em novembro para garantir a sobrevivência da empresa”

José Luiz Martins. O diretor da Anglo no Amapá fala à imprensa pela primeira vez desde o acidente de março.
O diretor-geral da mineradora Anglo American no Amapá, José Luiz Martins, foi um dos personagens da semana depois que decidiu reunir a imprensa para conceder a primeira entrevista coletiva desde o acidente ocorrido no dia 28 de março deste anos no porto de embarque de minérios na empresa em Santana. Ele disse que estava aguardando a conclusão dos trabalhos de investigação do acidente feita por uma auditoria independente que foi contratada pela Anglo, composta de renomados técnicos em solos, engenharia civil e naval. Para a empresa as causas do acidente que vitimou seis operários e muito prejuízo material foram naturais, ou seja, uma falha geológica que não se tinha identificado.

Cleber Barbosa
Da Redação

Diário do Amapá – De que forma a Anglo relata que ocorreu aquele acidente?
José Luiz Martins – O acidente aconteceu de forma inesperada, imprevisível, um acidente inédito, e aconteceu de forma abrupta, não tínhamos como nós prevermos.

Pergunta – E por uma causa natural, é isso?
José Luiz – Uma causa natural, nós não sabíamos que ali naquele local, nem era possível identificar antes do acidente, que existia uma argila mole, sensível, que precisa de tratamento especial para poder o porto voltar a operar numa condição segura.

Pergunta – Foi essa argila que causou o acidente?
José Luiz – Ela é a principal causa do acidente.

Pergunta – Diretor, mas antes que vocês montassem toda aquela estrutura não foi feito um estudo do solo?
José Luiz – Foram feitos vários estudos. Foram feitos estudos pela Icomi, foram feitos estudos pela empresa que reformou o porto em 1997 e essa argila não tinha sido identificada, não se conhecia a existência dessa argila naquele local.

Pergunta – Com base em que foram tiradas essas conclusões?
José Luiz – A explicação da sequencia do acidente foi feita a partir de câmeras de segurança do porto e do depoimento de pessoas que viram o acidente. O descobrimento da causa do acidente foi obtido a partir de várias perfurações de sondagens, várias análises de laboratório, não só aqui, mas em laboratórios no exterior e uma pesquisa muito profunda com renomados especialistas do Brasil e do exterior.

Pergunta – A Politec divulgou um laudo que vai contra isso que a empresa afirma agora.
José Luiz – Não vão contra o nosso laudo, são laudos feitos em momentos diferentes. A Politec fez o laudo dela em um momento, sem ter inclusive todos os dados e informações que eles nos pediram e nós não podíamos fornecer porque parte dos documentos que eles nos pediram submergiram no acidente porque estavam no escritório do porto. Nós tivemos que buscar, por exemplo, na empresa que construiu o porto projetos e uma série de documentos para então agora trazer junto com esse laudo e entregar às autoridades, então com esse novo nível de informação pode-se chegar a outras conclusões.

Pergunta – Além dessa argila encontrada tem mais alguma coisa que teria causado esse acidente?
José Luiz – Não.

Pergunta – E como é que está sendo feito o transporte de minério?
José Luiz – O transporte de minério continua sendo feito pela ferrovia. A gente produz minério na mina em Pedra Branca [do Amapari] e transporta pela ferrovia e está estocando aqui na área da ferrovia, não está estocando nada na área do porto. O embarque é que está suspenso. Nós estamos pensando primeiro na solução definitiva para o porto voltar a operar, pois tem que ser uma solução com muita segurança.

Pergunta – O Imap [Instituto do Meio Ambiente] estipulou um valor de multa à empresa que pensa em pagar ou vai recorrer?
José Luiz – Não, nós apresentamos a nossa defesa ao Imap que está lá junto com seus técnicos, sua área jurídica estudando a nossa defesa.

Diário do Amapá – Essa solução alternativa para a retomada dos embarques e das exportações deve começar a partir de quando?
José Luiz – Nós estamos trabalhando fortemente, evidentemente que depende das licenças das autoridades e dos órgãos licenciadores, mas a nossa ideia é voltar a operar na primeira semana de novembro para garantir a sobrevivência da empresa, o retorno dessa operação é muito importante, até porque nós estamos esgotando as áreas disponíveis para estocar minério, então se a gente continua estocando sem embarcar em algum momento essas áreas ficam cheias e temos que tomar outra decisão.

Diário – E a solução definitiva, ou seja, com a reconstrução do porto é para quando?
José Luiz – A nossa previsão, e eu reforço mais uma vez, que depende das licenças dos órgãos licenciadores, estamos trabalhando com uma previsão de voltarmos a operar no segundo trimestre de 2014.

Pergunta – Como é essa composição da equipe que preparou o laudo do acidente pela mineradora?
José Luiz – A empresa contratou uma investigação que foi feita por uma equipe independente, são profissionais completamente independentes, composta por quatro geotécnicos, um engenheiro naval, um engenheiro civil, um engenheiro hidráulico, outro hidrólogo, pessoas das universidades mais famosas do Brasil, do Pará, do Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro e eles chegaram à conclusão que a causa não é operacional que a operação não foi, o empilhamento do minério e a operação no porto não teve impacto na causa do acidente, a causa é em função de uma coisa imprevisível que é a existência da argila sensível ali naquela área do porto.

Pergunta – Então o acidente era inevitável, aconteceria uma hora ou outra já que foi por uma causa natural?
José Luiz – É, o acidente segundo os laudos ele é imprevisível, é inédito, nunca aconteceu causa parecida anteriormente, outro acidente parecido com esse, não tinha acontecido nunca no Brasil. Daqui para frente, evidentemente quando se for construir um porto será necessário se tomar alguns cuidados em função do aprendizado desse acidente.

Pergunta – Falou-se que o sobrepeso contribuiu para isso.
José Luiz – Não tinha sobrepeso, muito pelo contrário, tinha subpeso, o porto foi projetado para uma determinada quantidade de minério, era para ter ali 400 mil toneladas de minério estocado e durante a vida do porto em nenhum momento chegou a ser esse volume, essa tonelagem, o máximo que se tinha, há um ano, foi 320 mil toneladas e no dia do acidente tinha 280 mil [toneladas].

Pergunta – Em relação às famílias das vítimas, quanto às buscas, elas acabaram?
José Luiz – A empresa junto com as autoridades e os órgãos responsáveis pelas buscas, liderados pelos Bombeiros, passaram mais de dois meses procurando as vítimas do acidente. Quatro corpos foram encontrados, dois deles continuam desaparecidos. As famílias já estão providenciando a declaração da morte presumida. Desde os primeiros momentos nós estamos dando toda a assistência material e imaterial independente de não ser o responsável pelo acidente, já fizemos acordos indenizatórios com essas famílias e o pagamento está sendo efetuado nos próximos dias. Independente desse pagamento toda a assistência vai continuar até as famílias deixarem de necessitar do nosso suporte.

Perfil...

Entrevistado. José Luiz de Oliveira Martins é pernambucano, tem 55 anos de idade, casado e pai de três filhos. Possui duas graduações de nível superior, é engenheiro civil e engenheiro de mina, ambas pela Universidade Federal de Pernambuco, tendo concluído os cursos em 1980. Trabalhou na Vale (Companhia Vale do Rio Doce) e na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) antes de se mudar para o Amapá, em outubro de 2008, quando assumiu as rédeas da mineradora Anglo Ferrous Brasil, um braço da poderosa Anglo American, uma das maiores mineradoras do mundo. Em 2013, com o anúncio de uma transação entre a Anglo Ferrous Brasil – Sistema Amapá e a indiana Zamin teria sido convidado a permanecer no projeto no Amapá.

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