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domingo, 2 de março de 2014

Sarney justifica porque não desfilou em escola que lhe rendeu homenagem no Carnaval do Amapá

Aspecto do desfile da Embaixada de Samba Cidade de Macapá, na noite de sexta-feira, em Macapá
O senador José Sarney (PMDB-AP) concedeu entrevista neste sábado (01) quando falou sobre os motivos para decidir não desfilar na Embaixada de Samba Cidade de Macapá, agremiação carnavalesca que defendeu no Sambódromo o enredo “Do Maranhão para o Amapá, a viagem do poeta vencedor”, que faz um passeio na carreira literária de Sarney. Para o ex-presidente do Brasil, foi para evitar qualquer conotação política que decidiu não aparecer na avenida, apesar de se dizer eternamente grato pela homenagem.
Sarney disse ter ficado muito sensibilizado pela decisão de uma escola de samba do Amapá em prestar a ele uma homenagem dessa envergadura. Acompanhe, a seguir, a íntegra da entrevista concedida por Sarney à rádio Diário FM, que transmitiu ao vivo o desfile no Sambódromo de Macapá:

Pergunta – O senhor foi o grande homenageado na primeira noite dos desfiles das Escolas de Samba no Sambódromo de Macapá, por sua obra literária, como poeta e membro da Academia Brasileira de Letras, como foi isso para o senhor presidente?
José Sarney – Olhe, eu quero em primeiro lugar agradecer muito à Embaixada de Samba Cidade de Macapá a homenagem que me prestou sendo tema do enredo dessa agremiação, ainda mais porque isso representa para mim um fato muito especial, que é a sensibilidade do povo, através dos carnavalescos que fazem aquele Carnaval do Amapá, para a literatura, para as coisas do espírito, então resolveram homenagear o homem de letras, o intelectual e isso me honra muito, pois significa também o apreço do Amapá pela cultura e por aqueles que se dedicam ao cultivo das artes e ao cultivo da literatura, portanto eu agradeço e fico muito sensibilizado.

Pergunta – E qual o tamanho dessa obra literária, presidente?
Sarney – Eu já tenho publicado 124 títulos. Agora mesmo está saindo pela Editora Leia a 17ª edição do “Norte das Águas”, a 9ª edição de “Saraminda”. Tenho livros publicados em 12 línguas e ao mesmo tempo sou membro da Academia de Letras do Brasil, inclusive sou o decano. Sou doutor pela Universidade de Coimbra, membro da Academia de Letras de Lisboa, tenho também o título de doutor pela Universidade de Pequim e pela Universidade de Moscou e de muitas outras universidade. Também tenho livros, como disse, publicados no Brasil e no exterior. Assim, a homenagem que a escola de samba fez a mim foi pela produção literária, um reconhecimento por minha parte intelectual, o que me sensibiliza muito, pois todos sabem que a minha vida foi dividida em duas partes, a literatura e a política, mas a literatura foi uma vocação que eu nunca abandonei na minha vida, mesmo convivendo com a política, e inteiramente diferente a literatura. Mas não me faltou tempo em toda a minha vida para escrever, publicar e estar sempre presente nas coisas da cultura.

Pergunta – E a política ajudou na cultura também, não é?
Sarney – É, tanto que a Lei de Incentivo à Cultura é de minha autoria, foi por mim apresentada há mais de 40 anos no Brasil e hoje ela dá recursos para que no país inteiro a cultura possa ter apoio público. Eu quero agradecer muito sensibilizado a todos aqueles que promoveram essa homenagem, principalmente aqueles que tomaram à frente na Embaixada do Samba Cidade de Macapá, nessa prova de consideração.

Pergunta – O senhor não assistiu ao desfile?
Sarney – Me disseram que foi um desfile muito bonito, que mostrou o talento dos carnavalescos do Amapá, especialmente aqueles da Embaixada e ao mesmo tempo todos aqueles que fizeram os figurinos, que fizeram a música, que desfilaram e que promoveram uma parte importante do Carnaval do Amapá. Eu sou muito grato uma vez mais, sobretudo por essa faceta, a faceta do intelectual. Eu não estive presente ao desfile para que não se confundisse a política com a literatura e assim pudesse ter uma interpretação diferente, que pudesse a Justiça Eleitoral interpretar de maneira diferente, mas eu estava em espírito acompanhando o desfile e ao mesmo tempo telefonando para saber como é que tinha sido e fiquei muito feliz, muito feliz e muito grato. A minha gratidão a todos eles.

Pergunta – Aliás, foi uma ausência sentida mesmo, havia até uma expectativa muito grande por parte da imprensa que cobria o desfile, transmitido por emissoras de rádio e televisão, de que o senhor pudesse aparecer no final, como um elemento surpresa da apresentação da Embaixada, mas o senhor já havia dito da impossibilidade de comparecer até por estar acompanhando a recuperação de sua esposa, que foi submetida a uma cirurgia. Dona Marly está bem?
Sarney – Está bem, graças a Deus. Mas ao mesmo tempo o que pesou muito foi o fato da lei eleitoral poder interpretar como propaganda antecipada, como se eu estivesse me valendo do Carnaval para fazer propaganda política pessoal. Eu acho que foi totalmente espontâneo, eu não interferi, não pedi, foram eles que tiveram a iniciativa e por isso sou duplamente grato pelo que eles fizeram.

Pergunta – Muita gente destacou o trabalho do carnavalesco Disney Silva que retratou muito bem no enredo a trajetória do senhor na literatura, desde a infância nos campos de São Bento até sua chegada ao Amapá, onde também publicou inúmeras obras literárias. Na comissão de frente da escola os integrantes usavam o fardão característico da Academia Brasileira de Letras o senhor sabia?
Sarney – É, eu soube que foi muito bonito. O enredo foi muito bem feito. Eu tive a oportunidade de ver o desenho das fantasias e fiquei muito impressionado com a qualidade e disse isso aos responsáveis pelo desfile. Fico feliz por eles terem concretizado tudo isso num desfile com toda a parte literária da minha vida, na qual se inclui alguns livros sobre a história do Amapá, que hoje é muito divulgado lá fora, nas escolas e é livro de consulta das universidades, inclusive o livro “Saraminda” que está ambientado nos garimpos de Calçoene e que está circulando pelo mundo inteiro, com três traduções na França e também uma recepção muito grande na Guiana. Eu acho que o Amapá também por esse outro lado ganha, pois eu não fiquei só na política. Também procurei inserir o Amapá na literatura brasileira.

Pergunta – Na letra do samba de enredo da Embaixada há referência de que o senhor foi um poeta vencedor.
Sarney – O samba eu ouvi várias vezes e é muito bonito mesmo.

Pergunta – Obrigado por sua entrevista presidente.

Sarney – Muito obrigado digo eu e parabéns à Embaixada do Samba e um abraço a todo o povo do Amapá.


Ficha técnica do desfile da Embaixada do Samba, durante a transmissão pela tv. Foto: Reprodução

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