Psicólogo. Diego Almeida fala sobre como a psicologia forense está vendo a onda de violência que assusta o Amapá. |
O psicólogo Diego Sousa de Almeida foi ao rádio ontem participar de debate a respeito da violência. Foi durante o programa Conexão Brasília, na Diário FM. Ele falou sobre as origens da humanidade, quando o homem passou a ter contato com a violência como forma de sobrevivência. Depois, com a civilização, esses instintos foram reprimidos por regras de convivência social. Então o que explica o fato da sociedade atual achar que o mundo está mais violento? O que leva uma pessoas a entrar para o mundo da criminalidade? Essas e outras perguntas são respondidas pelo especialista nesta entrevista que o Diário do Amapá publica a seguir, concedida ao jornalista Cleber Barbosa. Acompanhe a conversa.
Cleber Barbosa
Da Redação
Diário do Amapá – Falar sobre a violência dos dias atuais não deve ser coisa simples para a psicologia, não é?
Diego Almeida – Exatamente, não é simples. A violência é um tema muito complexo e a gente percebe hoje que o mundo realmente parece que está mais violento, mas na verdade se a gente for falar um pouco mais sobre isso podemos dizer que a violência é uma constante. Ela é natural ao ser humano, a gente convive com isso desde os primórdios, desde os tempos anteriores à civilização.
Diego Almeida – Exatamente, não é simples. A violência é um tema muito complexo e a gente percebe hoje que o mundo realmente parece que está mais violento, mas na verdade se a gente for falar um pouco mais sobre isso podemos dizer que a violência é uma constante. Ela é natural ao ser humano, a gente convive com isso desde os primórdios, desde os tempos anteriores à civilização.
Diário – Então por que as pessoas estão mais assustadas e até revoltadas com tanta violência?
Diego – O que ocorre hoje é que como nós temos meios de informação mais rápidos, mais velozes como a mídia televisiva e a internet através das redes sociais. Acontece que a violência fica mais exposta, aparece mais, ao contrário do que acontecia anteriormente, quando a informação circulava com menor velocidade.
Diário – Dá pra dizer que as pessoas estão mais violentas atualmente?
Diego – É importante conceituar, o que não é muito fácil, mas a diferença entre violência e agressão. A agressão é um movimento natural do homem, antes da civilização, pois naquela época o homem para sobreviver precisava matar, precisava articular de várias maneiras, vários meios para sobreviver. E não existiam leis naquela época. Depois que a sociedade de modo geral se organizou essa maneira de agir do homem ficou reprimida, ele precisou reprimir para viver em sociedade. Daí eu dizer que a agressão é comum, tanto no meio social humano como no meio animal. Ela pode ser entendida como um impulso filogenético programado pelo ataque ou recuo quando a vida ou o espaço vital são ameaçados. Isso a gente percebe no próprio animal, quando é acuado, quando é atacado ele vai se defender, é um instinto do animal.
Diário – E o homem, age como quando é violento?
Diego – Diferente do animal o homem é o único capaz de empreender um ato agressivo com prazer, com satisfação. Nesse ponto ele se difere do animal e aí a agressão é sinônimo de qualquer ação ou omissão com mecanismo usado contra o outro para causar qualquer tipo de dano ou prejuízo.
Diário – Hoje a gente tem visto as pessoas se mobilizando para a prática da violência, usando até ferramentas da modernidade, como as redes sociais.
Diego – Quando a gente vive em sociedade, a leis e as regras de convivência interditam, elas interrompem o homem e esses instintos, essa vontade original é reprimida. Já com os grupos que se formam e praticam a violência é diferente. Quando as pessoas se associam para praticar a violência essa repressão diminui e as pessoas se sentem mais livres para atuar.
Diário – Ainda com relação à internet a gente já viu recentemente pessoas sendo indiciadas por apologia ao crime, ao postar fotos portando armas de fogo ou até combinando vinganças e outros atos de violência. Como o senhor vê isso?
Diego – O grupo se sente livre para atuar, conforme eu disse anteriormente. Algumas pessoas até dizem não reconhecer mais um indivíduo porque ele se transformou. Na verdade são instintos que estão ali, são vontades que estão ali desde sempre e que quando ele se reúne em grupo essa repressão social causada pelas leis, e a resistência interna causada pelo que se chama de psique, o superego, ele reduz. A ideia de estar em grupo é se camuflar, não ser percebido, ao contrário do que aconteceria se estivesse agindo sozinho.
Diário – Segundo estatísticas da Justiça local, 76% da população carcerária hoje do Iapen são constituídos por pessoas na faixa etária dos 18 aos 27 anos, ou seja, um grupo eminentemente jovem.
Diego – Exatamente, esses dados reais e lamentáveis eu diria. Além da violência eu percebo também que há uma constante de intolerância. A gente vive um tempo de intolerância onde as pessoas saem de uma simples discussão no trânsito ou uma discussão familiar pode gerar às vezes um trauma maior, um problema muito maior. As pessoas hoje têm menos tolerância.
Diário – Tem até uma frase que diz que ‘o homem é um produto do meio’, ou seja, do meio onde ele vive, então diante dessas circunstâncias as pessoas estão também ficando mais acomodadas com os episódios de violência?
Diego – Exatamente, mas pela psicologia na verdade acontece um pouco o contrário disso, pois o homem traz dentro de si alguns desejos, algumas vontades que são reprimidas pelo conjunto de leis, mas que quando ele se vê no grupo, quando se vê aliado e identificado com outras pessoas que têm o mesmo objetivo, a mesma identidade, ele se sente livre para agir e colocar para fora o que reprimiu dentro de um contexto social.
Diário – E lá na Penitenciária, o que tem de iniciativas visando a ressocialização daqueles que entraram para a criminalidade?
Diego – Lá dentro da Penitenciária estou há dois anos e trabalho com as pessoas do regime semiaberto. Iniciei um trabalho com eles em 2012 preparando essas pessoas para a saída. Os questionamentos são sobre se essas pessoas quando saem voltam a cometer outros delitos, o que infelizmente é uma realidade do nosso sistema penitenciário, pois temos uma dificuldade muito grande, seja de estrutura, seja com pessoal, pois temos poucas pessoas para o quantitativo de presos que temos que atender. Mas nós fazemos o possível, nos esforçamos muito e tentamos fazer o melhor ali dentro.
Diário – E sobre outro aspecto doutor, a dependência a drogas que muitos presos desenvolvem?
Diego – Pois é, depois desse trabalho com o pessoal do semiaberto eu desenvolvi um trabalho com aqueles com dependência química também lá dentro, por aproximadamente três ou quatro meses. Agora mais recentemente tenho trabalhado com os presos que progrediram do regime fechado para o semiaberto. Eu trabalho com grupos de pessoas, de 25 a 30 pessoas, fazendo a roda de terapia comunitária, juntamente com assistentes sociais e com outros técnicos, num trabalho integrado, multiprofissional e interdisciplinar com relação à ressocialização.
Diário – Há quem atribua o fato de tantos jovens ingressarem na criminalidade a falta de oportunidades de empregos para essas pessoas. O que o senhor acha disso?
Diego – A gente não pode achar respostas simples para questões complexas. O problema da criminalidade é muito complexo e ele demanda várias soluções, vários meios para se resolver e mesmo assim a gente não tem garantias de resolução. Posso dizer que a questão social, do trabalho e do emprego, de fato tem influencia sim na criminalidade, mas também a falta de educação que nosso Estado e nosso país sofrem, a falta de moradia também, a falta de saúde, esses são tópicos importantes para quando a gente conversa ou a gente discute a questão da criminalidade.
Perfil...
Diego – O que ocorre hoje é que como nós temos meios de informação mais rápidos, mais velozes como a mídia televisiva e a internet através das redes sociais. Acontece que a violência fica mais exposta, aparece mais, ao contrário do que acontecia anteriormente, quando a informação circulava com menor velocidade.
Diário – Dá pra dizer que as pessoas estão mais violentas atualmente?
Diego – É importante conceituar, o que não é muito fácil, mas a diferença entre violência e agressão. A agressão é um movimento natural do homem, antes da civilização, pois naquela época o homem para sobreviver precisava matar, precisava articular de várias maneiras, vários meios para sobreviver. E não existiam leis naquela época. Depois que a sociedade de modo geral se organizou essa maneira de agir do homem ficou reprimida, ele precisou reprimir para viver em sociedade. Daí eu dizer que a agressão é comum, tanto no meio social humano como no meio animal. Ela pode ser entendida como um impulso filogenético programado pelo ataque ou recuo quando a vida ou o espaço vital são ameaçados. Isso a gente percebe no próprio animal, quando é acuado, quando é atacado ele vai se defender, é um instinto do animal.
Diário – E o homem, age como quando é violento?
Diego – Diferente do animal o homem é o único capaz de empreender um ato agressivo com prazer, com satisfação. Nesse ponto ele se difere do animal e aí a agressão é sinônimo de qualquer ação ou omissão com mecanismo usado contra o outro para causar qualquer tipo de dano ou prejuízo.
Diário – Hoje a gente tem visto as pessoas se mobilizando para a prática da violência, usando até ferramentas da modernidade, como as redes sociais.
Diego – Quando a gente vive em sociedade, a leis e as regras de convivência interditam, elas interrompem o homem e esses instintos, essa vontade original é reprimida. Já com os grupos que se formam e praticam a violência é diferente. Quando as pessoas se associam para praticar a violência essa repressão diminui e as pessoas se sentem mais livres para atuar.
Diário – Ainda com relação à internet a gente já viu recentemente pessoas sendo indiciadas por apologia ao crime, ao postar fotos portando armas de fogo ou até combinando vinganças e outros atos de violência. Como o senhor vê isso?
Diego – O grupo se sente livre para atuar, conforme eu disse anteriormente. Algumas pessoas até dizem não reconhecer mais um indivíduo porque ele se transformou. Na verdade são instintos que estão ali, são vontades que estão ali desde sempre e que quando ele se reúne em grupo essa repressão social causada pelas leis, e a resistência interna causada pelo que se chama de psique, o superego, ele reduz. A ideia de estar em grupo é se camuflar, não ser percebido, ao contrário do que aconteceria se estivesse agindo sozinho.
Diário – Segundo estatísticas da Justiça local, 76% da população carcerária hoje do Iapen são constituídos por pessoas na faixa etária dos 18 aos 27 anos, ou seja, um grupo eminentemente jovem.
Diego – Exatamente, esses dados reais e lamentáveis eu diria. Além da violência eu percebo também que há uma constante de intolerância. A gente vive um tempo de intolerância onde as pessoas saem de uma simples discussão no trânsito ou uma discussão familiar pode gerar às vezes um trauma maior, um problema muito maior. As pessoas hoje têm menos tolerância.
Diário – Tem até uma frase que diz que ‘o homem é um produto do meio’, ou seja, do meio onde ele vive, então diante dessas circunstâncias as pessoas estão também ficando mais acomodadas com os episódios de violência?
Diego – Exatamente, mas pela psicologia na verdade acontece um pouco o contrário disso, pois o homem traz dentro de si alguns desejos, algumas vontades que são reprimidas pelo conjunto de leis, mas que quando ele se vê no grupo, quando se vê aliado e identificado com outras pessoas que têm o mesmo objetivo, a mesma identidade, ele se sente livre para agir e colocar para fora o que reprimiu dentro de um contexto social.
Diário – E lá na Penitenciária, o que tem de iniciativas visando a ressocialização daqueles que entraram para a criminalidade?
Diego – Lá dentro da Penitenciária estou há dois anos e trabalho com as pessoas do regime semiaberto. Iniciei um trabalho com eles em 2012 preparando essas pessoas para a saída. Os questionamentos são sobre se essas pessoas quando saem voltam a cometer outros delitos, o que infelizmente é uma realidade do nosso sistema penitenciário, pois temos uma dificuldade muito grande, seja de estrutura, seja com pessoal, pois temos poucas pessoas para o quantitativo de presos que temos que atender. Mas nós fazemos o possível, nos esforçamos muito e tentamos fazer o melhor ali dentro.
Diário – E sobre outro aspecto doutor, a dependência a drogas que muitos presos desenvolvem?
Diego – Pois é, depois desse trabalho com o pessoal do semiaberto eu desenvolvi um trabalho com aqueles com dependência química também lá dentro, por aproximadamente três ou quatro meses. Agora mais recentemente tenho trabalhado com os presos que progrediram do regime fechado para o semiaberto. Eu trabalho com grupos de pessoas, de 25 a 30 pessoas, fazendo a roda de terapia comunitária, juntamente com assistentes sociais e com outros técnicos, num trabalho integrado, multiprofissional e interdisciplinar com relação à ressocialização.
Diário – Há quem atribua o fato de tantos jovens ingressarem na criminalidade a falta de oportunidades de empregos para essas pessoas. O que o senhor acha disso?
Diego – A gente não pode achar respostas simples para questões complexas. O problema da criminalidade é muito complexo e ele demanda várias soluções, vários meios para se resolver e mesmo assim a gente não tem garantias de resolução. Posso dizer que a questão social, do trabalho e do emprego, de fato tem influencia sim na criminalidade, mas também a falta de educação que nosso Estado e nosso país sofrem, a falta de moradia também, a falta de saúde, esses são tópicos importantes para quando a gente conversa ou a gente discute a questão da criminalidade.
Perfil...
Entrevistado. Diego Sousa de Almeida tem 27 anos de idade, e nasceu em Belém (PA), filho de pai paraense e mãe amapaense. Diplomou-se em Bacharelado e Licenciatura em Psicologia pela Universidade da Amazônia (Unama), em 2010. Ingressou por concurso público no quadro de psicólogos do Estado do Amapá, sendo atualmente lotado na Coordenadoria de Tratamento Penal, inserido na Unidade de Assistência Social e Psicologia do Complexo Penitenciário do Amapá (Iapen). Diz estar aplicando a tese defendida nos tempos de Academia “A mudança em grupoterapia com base na Gestalt”. Atualmente também está fazendo sua especialização em Saúde Mental pela Universidade Federal do Amapá (Unifap).
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