Batista. A trajetória vitoriosa de um empresário visionário que se firmou no ramo das telecomunicações no Amapá |
Ele já foi chamado de doido pela forma arrojada com que se joga nos projetos e na defesa de suas convicções. Mas longe disso, o empresário Carlos Batista acabou virando o papa das telecomunicações no Amapá. Um visionário, alguém à frente de seu tempo. Ele largou até a comodidade de um emprego público para arriscar tudo e se reinventar como profissional. Com forte vocação empresarial, ousou em trazer para Macapá o primeiro provedor de internet, nos anos 90. Depois virou referência em implementos para informática, até dar o grande salto nos negócios, lançando uma linha de transmissão via rádio para conseguir o sinal de banda larga mais próximo, em Belém. Saiba mais sobre ele a seguir.
Cleber Barbosa
Da Redação
Diário do Amapá – O senhor foi funcionário da antiga Embratel, quando aquela empresa estatal à época era o único meio dos moradores do Amapá se comunicarem com o mundo, via telefone, não é?
Diário do Amapá – O senhor foi funcionário da antiga Embratel, quando aquela empresa estatal à época era o único meio dos moradores do Amapá se comunicarem com o mundo, via telefone, não é?
Carlos Batista – Positivo. Nós trabalhamos na Embratel de 1980 a 1990, foram dez anos, portanto e a Embratel era realmente a única empresa que tratava de dados e também de telefonia para o Estado do Amapá.
Diário – O senhor era técnico em telecomunicações?
Batista – Sou até hoje, com muito orgulho. Ando com meu alicate e minha chave de fenda na pasta, não tem jeito.
Diário – A partir daí o senhor decidiu sair da chamada zona de conforto, por assim dizer, pela estabilidade e outras prerrogativas do serviço público e decidiu ser empreendedor. Pensava em vender o que?
Batista – É, eu pedi a conta e foi uma surpresa para os meus chefes. Falavam que em mais de vinte anos de Embratel nenhum funcionário tinha pedido a conta. Chamaram-me até de doido... [risos] Mas eu estava vendo o lado empresarial, que já estava na veia, por assim dizer. Sai para fundar a empresa que existe até hoje.
Diário – Vendendo o que?
Batista – Na verdade começou com conserto de aparelhos eletrônicos, venda de componentes eletrônicos, antenas parabólicas por exemplo. Depois cresceu bastante no ramo da informática também e das telecomunicações hoje.
Diário – O senhor então foi pioneiro na questão da distribuição do sinal de internet, uma grande novidade naquela época?
Batista – Exatamente, fomos pioneiros também em prover acesso à internet, já com a Embratel fornecendo link, nós montamos um provedor já iniciando a atender a demanda que existia, numa velocidade muito baixa, 9.600k que era um negócio já muito veloz para a época. Fomos crescendo e chegamos ao que somos hoje, uma empresa de telecomunicações grande né?
Diário – Bem, mas o Amapá ainda não tinha acesso à internet de maior velocidade, a banda larga, então o senhor decidiu ir buscar em Belém, num projeto de vanguarda em que espalhou antenas repetidoras e atravessou o Marajó.
Batista – Realmente, foi um projeto muito audacioso interligar dois estados numa região muito alagada como a Ilha do Marajó, uma belíssima região. Mas nenhuma outra empresa teve a coragem de fazer o que nós fizemos indo buscar esse sinal na cidade de Belém, numa distância de quase 400 quilômetros e para isso instalando onze torres de repetição de links de micro-ondas, passando a atender Macapá com banda larga de alta velocidade já.
Diário – Até então a internet que se tinha em Macapá chegava por satélite?
Batista – Isso. Saímos de uma latência que é 600 milissegundos para 60 milissegundos, ou seja, nós ganhamos, logo de imediato, dez vezes a velocidade que se tinha antes. Então estávamos provendo a internet de altíssima velocidade que temos hoje.
Diário – Muita gente diz que não viveria hoje sem a internet. Para o senhor que veio lá de trás, das telecomunicações deficientes da Macapá de outrora, vê como esse bem valioso que é a internet?
Batista – De fato, hoje ninguém vive sem internet. E não tem como ficar sem internet. Cada dia a demanda é maior e cada dia se precisa de mais velocidade. Então o que a nossa empresa tem feito e está fazendo, é instalar uma rede de fibra ótica para a região metropolitana, que já está bastante grande, em torno de 200 quilômetros, para que nós possamos atender melhor nossa clientela.
Diário – Então seus consumidores irão migrar para um sistema em que o sinal será distribuído por cabos de fibra ótica?
Batista – Hoje nós estamos distribuindo a banda larga via rádio, mas a nossa rede está preparada para fazer a conexão com a fibra que vem com o Linhão do Tucuruí. Temos contrato assinado com a empresa e estamos aguardando só a finalização da implantação e em breve os nossos clientes vão ter uma capacidade muito grande e uma velocidade com estabilidade proporcionada pela fibra ótica.
Diário – Então foram conquistas importantes, saindo do satélite, indo para a via rádio e agora por meio da fibra ótica?
Batista – Positivo, tendo sempre o ganho tanto de velocidade como de capacidade. Hoje por ser o nosso backbone terrestre via link de rádio a capacidade é limitada, então a gente não pode vender outros planos com velocidade maior e o custo de manutenção também dessa rede Macapá-Belém que é alto, haja vista que você tem que atravessar de um estado para outro fazendo manutenções preventivas constantemente. Com a fibra você tem uma qualidade maior, mais estabilidade e capacidade maior também.
Diário – Essa rede que o senhor instalou pelo Marajó e também pelo interior do Amapá não deixa de prestar um serviço social também, afinal alcança onde o poder público ainda não chegou, não é?
Batista – Ah sim, isso realmente foi um ganho muito grande para as comunidades desses municípios, pois o poder público do Pará é que deveria atender essas comunidades tão distantes, mas acabou a nossa empresa fazendo esse papel social. Onde passam as nossas torres nós abrimos o sinal, atendemos prefeituras, escolas e a comunidade, que é o mais importante.
Diário – Quando o Linhão do Tucuruí for ligado o que vai acontecer com esse sistema via rádio que o senhor instalou até Belém?
Batista – Continuará funcionando, fica de backup, uma reserva técnica para o caso de ocorrer algum problema na fibra do Linhão de Tucuruí, assim nós continuaremos a atender nossos clientes, sem perda de sinal, até que se restabeleça a conexão.
Diário – Qual o futuro que o senhor vislumbra para essa comunicação de dados?
Batista – Acho que é acima de tudo um direito o cidadão ter acesso a essas tecnologias. Com a chegada da fibra ótica irá reduzir muito o custo do serviço para o usuário final. Nossa proposta é reduzir o máximo esse custo para uma maior quantidade de usuários se conectarem, fazendo o que se chama de inclusão digital. Do ponto de vista comercial continuaremos inovando e acompanhando as novas tecnologias. Nosso sistema de cabos já está preparado para levar ao consumidor agora três modalidades de comunicação, a internet, a telefonia e a tv a cabo. Não podemos ficar parados vendo o bonde da história passar.
Perfil...
Entrevistado. Carlos Lima Batista tem 60 anos, nasceu em Macapá, casado há 38 anos e pai de três filhos. De origem humilde, tinha mais oitos irmãos e sempre teve vocação para o trabalho. Desde garoto buscou seu sustento, seja vendendo hortifrútis ou pequenos serviços. Tinha admiração por uma oficina de equipamentos eletrônicos, até abrir seu próprio negócio. Também fez carreira no serviço público, mas decidiu largar tudo e investir o dinheiro da indenização em antenas parabólicas, algo que viraria uma febre na cidade. É considerado um visionário, percebendo as inovações tecnológicas e trazendo para sua comunidade. Foi o primeiro a trazer internet de alta velocidade para o Amapá, num projeto arrojado e de vanguarda, denominado Web Flash.
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