Com
muita bagagem acumulada entre estudos e enfrentamento às drogas pelo
Brasil e fora dele também, o deputado federal Givaldo Carimbão (PHS-AL),
que visitou Macapá recentemente, passou para falar pelo país sobre essa
longa experiência e também pedir apoio para a aprovação de uma nova
legislação para nortear o enfrentamento a produção e comercialização de
entorpecentes no Brasil. Ele visitou os estúdios do programa Luiz Melo
Entrevista, da rádio Diário FM, ocasião em que protagonizou uma
verdadeira aula de conhecimento a respeito deste tema.
Diário do Amapá – Por que Carimbão?
Givaldo Carimbão
– Vem de carimbo mesmo. Como é o nome do Sarney? José de Ribamar. E
virou Sarney. Mas é que eu tinha uma loja de carimbos, papelaria e
gráfica, isso há trinta anos atrás, quando incendiou a minha loja, era o
Carimbão. Então me chamavam de Givaldo do Carimbão, do Carimbão, do
Carimbão aí ficou Carimbão. Estou com sete mandatos e o juiz teve até
que mudar meu nome.
Diário – Não quer dizer então
que o senhor seja daqueles burocratas que acham que o carimbo vale tudo,
mais do que uma assinatura?
Carimbão – Eu acho que o carimbo até já acabou hoje, a tecnologia superou.
Diário – Mas aqui se não tiver com o carimbo não vale nada…
Carimbão – Mas o carimbo sem assinatura não vale.
Diário – E dono de um currículo e tanto na política.
Carimbão
– Tive 1 mil votos na primeira eleição, 2 mil na segunda eleição, 4 mil
votos na terceira, 40 mil votos na quarta, 60 mil votos na quinta, 80
mil votos na sexta e 100 mil votos na sétima [falando acelerado].
Diário – Um campeão de votos e daria um narrador esportivo.
Carimbão – Obrigado.
Diário
– O senhor já veio ao Amapá para falar de drogas. Essa ação que o
Governo Paulista está desencadeando em São Paulo retirando os drogados
das ruas involuntariamente não é uma agressão, considerando que nós
vivemos em uma democracia?
Carimbão – Foi a terceira vez que eu
visitei o Amapá. Já tinha vindo com o Milhomen e depois com Janete
Capiberibe em alguns encontros pelo Brasil afora. Há vinte anos eu
estudo um pouco essa matéria das drogas, que naquela época era a questão
da cheira cola e o Estatuto da Criança e do Adolescente tira a cola.
Rapidamente os governos não tomam providências e de repente vem a
maconha, daí veio a época do maconheiro. Daí passa à cocaína e chega o
crack, essa o Brasil experimenta há quinze anos, o que levou o país
economicamente a despender muito dinheiro jogando pelo ralo.
Diário – E depois deputado?
Carimbão
– Eu escrevi dois livros sobre a matéria e tive a oportunidade de ser o
relator nacional de Políticas sobre Drogas. Estudei em 20 países, como
Suécia, Holanda, Inglaterra, Alemanha, Portugal, enfim, Estados Unidos,
Polônia, Bolívia, estudando oficialmente a política de 20 países pela
Câmara Federal. Nós rodamos 27 estados do Brasil para entender todo essa
processo. Ao final nós fizemos um relatório de 750 páginas e depois
nasceu um livro oficialmente nesta tese, um relatório definitivo para a
Política Sobre Drogas no Brasil.
Diário – Que está em que fase?
Carimbão
– Está para ser votado, espero que ainda no próximo mês. Foi votado e
aprovado por unanimidade na Comissão por 51 deputados que apreciaram a
questão do relatório, onde eu proponho, lógico, óbvio, também a
internação involuntária. Eu mudo o nome compulsória, por uma questão de
nomenclatura, mas é fundamental e importante que a população possa ter
serviço público de saúde. Eu tenho dito que isso não é caso de polícia, é
caso de saúde pública.
Diário – Por que?
Carimbão –
Eu fui a São Paulo, fiquei três dias dentro de uma delegacia e vários
deputados federais ficaram comigo, fomos até a ‘Cracolândia’, passamos
dois dias lá, enfim, nós entendemos o seguinte: o Brasil hoje tem 200
milhões de habitantes e a pesquisa mostra que 1% está no uso ativo do
crack, 7% da população está no uso ativo da maconha. Ora, 1% de 200
milhões de habitantes são 2 milhões de brasileiros, 2 milhões de
pessoas. Essa estado do Amapá tem 700 milhões de habitantes, então são
três estados desse dentro do Brasil fumando crack a essa hora, imagine
três vezes a população do Amapá está no uso ativo do crack a essa hora.
São números que espantam qualquer ser humano e são dados da Fundação
Getúlio Vargas, onde nós contratamos a pesquisa para nortearmos o
projeto.
Diário – Impressionante.
Carimbão –
Em São Paulo são 40 milhões de habitantes, então significa dizer que tem
400 mil pessoas no uso ativo do crack. Mas vamos ver onde está o grande
gargalo. O Brasil, em 1970, na Copa do Mundo, quando ficou famosa a
canção que dizia “…noventa milhões em ação…”, o Brasil tinha 90 milhões
de brasileiros em sua população, hoje temos 190 milhões, ou seja, o
Brasil cresceu 111% sua população. Naquele ano, 1970, o Brasil tinha 30
mil presos e hoje tem 550 mil presos, na [mesma] proporção era para ter
70 mil presos, mas o Brasil cresceu 1.600% [por cento] de presos contra
100% da população. Não há estado no mundo que suporte, não há família e
sociedade que suporte conviver com esse processo.
Diário – E crescendo.
Carimbão – Crack no mundo, grosso mesmo é em dois países, Brasil e Estados Unidos. Eu andei no mundo, andei no planeta.
Diário – Levar o viciado a força para o tratamento não é o poder público se render ao trafico?
Carimbão
– Olha, eu tenho dito o seguinte. Eu fui estudar na Bolívia, Colômbia e
Peru, três dos cinco países que produzem a droga. Esses três
representam 98% da produção de cocaína no mundo, então cocaína é
Bolívia, Colômbia e Peru. Heroína é no Afeganistão, em Cabul, ali
naquela região são 300 mil hectares e a maconha propriamente dita é no
Paraguai a melhor qualidade do mundo e a segunda maior produção e em
Marrocos a maior produção do mundo. Ou seja, crack, merla, cocaína é
tudo próprio da cocaína.
Diário – E o Brasil?
Carimbão
– O problema do Brasil é que o maior exportador do mundo está no
Brasil, porque três países, 17.144 quilômetros de fronteira está entre
Bolívia, Colômbia e Peru, pegando o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul.
Rondônia, Acre e uma partezinha daqui aqui ainda. Com a agravante de que
o único país do mundo autorizado a plantar cocaína e tem certificado de
qualidade é a Bolívia, que está ao lado, colado com o Brasil. É
humanamente impossível a olho, se não for a tecnologia e o Brasil
lamentavelmente não tem enfrentado esse problema.
Diário – Como enfrentar o problema?
Carimbão
– Tem que haver um tratado internacional. O Brasil não pode ficar
omisso, ficar fazendo simplesmente a repressão interna e não fazer um
trabalho bilateral entre países produtores e países consumidores, como é
o caso do Brasil. Se o Brasil quer enfrentar o problema a repressão é
um dos grandes começos, é muito mais barato para o Brasil.
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