CLÉCIO LUIZ -Ele diz que a sua formação acadêmica ajudará a administrar Macapá |
Ele já disputou a eleição para o Governo do Amapá em 2006, quando era vereador de Macapá, uma experiência apontada por ele como muito rica de que lhe valeu grande visibilidade. Era um tempo de mudanças profundas, afinal acabara de deixar o único partido que havia se filiado depois do movimento estudantil, o PT. Ajudava a fundar o PSol no Amapá e aponta a eleição de Randolfe Rodrigues, pelas cores da legenda, como um marco histórico para a organização de uma nova oposição no Estado. Admite que pode pegar carona na notoriedade do amigo e aliado, mas também julga ter se preparado intelectualmente para disputar a Prefeitura de Macapá nas eleições deste ano. Este e outros temas estão na entrevista concedida por Clécio Luiz ao jornalista Cleber barbosa.
CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO
Diário do Amapá - Essa sua pré-candidatura a prefeito de Macapá nasceu exatamente quando e como vereador?
Clécio Luiz - Na verdade nós construímos uma estrada que vem desde a militância no movimento cultural, dife-rente de boa parte dos meus companheiros que vieram do movimento estudantil. Num determinado momento nos encontramos na universidade, sou da primeira turma de geografia da Universidade Federal do Amapá, a Unifap. Eu da Geografia, o Randolfe da História e outros companheiros de outros cursos ajudamos a construir o Diretório Central dos Estudantes e, enfim, toda uma movimentação política que foi muito importante para a nossa formação política.
Diário - Depois veio a atuação partidária?
Clécio - Exatamente, a partir dali eu ingressei na militância partidária propriamente dita. Eu fui filiado ao PT durante 14 anos e sai junto com o Randolfe, com outros companheiros de uma organização política que participamos e que à época era do PT e que hoje é do PSol, que se chama Ação Popular Socialista. Em 2004 eu fui candidato pela primeira vez, então veja que depois de 14 anos de militância partidária é que eu fui ser candidato a vereador e hoje estou cumprindo o segundo mandato.
Diário - Mas em 2010 teve o nome indicado para compor a candidatura majoritária ao Senado, como suplente, não é?
Clécio - Isso, sou o primeiro suplente do senador Randolfe Rodrigues, fomos eleitos juntos na chapa na última eleição.
Diário - Já que falou nele, o que a chegada dele ao Senado representou para o seu partido?
Clécio - A partir da eleição do senador Randolfe criou-se realmente uma nova expectativa, nós criamos um novo caminho. A eleição do Randolfe, politicamente, acabou significando que nós nos transformamos num novo pólo de atração política. Eu fiz todo esse histórico para chegar nesse marco que foi a eleição dele, e não foi qualquer eleição. Nós sabemos como se deu o processo que levou o Randolfe a ser eleito senador, com uma votação expressiva, o político mais bem votado de toda a história do Amapá, com mais de 203 mil votos.
Diário - Isso motivou a criação desse novo projeto, de disputar e eleição para prefeito?
Clécio - Certo. Disputar uma eleição majoritária para o Executivo Municipal da Capital é um projeto, uma possibilidade que hoje se configura como uma pré-candidatura.
Diário - Mas o senhor já chegou a disputar uma eleição para governador, não é mesmo?
Clécio - Exatamente, eu disputei o governo em 2006 e digo que foi uma experiência maravilhosa para mim. Eu tinha acabado de deixar o PT e fomos construir o PSol, cujo registro foi conseguido realmente em cima da hora, no tempo limite para o registro partidário. nNós estreamos naquele ano em uma eleição com o PSol, no Brasil inteiro. A nossa companheira Heloísa Helena era presidente do partido, ela era senadora da República e foi candidata a presidente da República, todo mundo lembra disso.
Diário - E por aqui o projeto era chegar ao governo do Estado?
Clécio - Sim e reeleger o Randolfe, então deputado estadual, mas também apresentar uma chapa de deputados estaduais e federais, enfim, ter um projeto partidário para o Amapá, quando eu fui escolhido para ser o candidato a governador do Amapá naquele momento e foi uma experiência maravilhosa, devo dizer.
Diário - Como assim?
Clécio - Participar dos debates, ir para as ruas e apresentar o Psol pela primeira vez ao povo do Amapá e isso nos fortaleceu muito politicamente também. Ali eu consegui uma visibilidade muito grande e colho esses frutos até hoje.
Diário - E depois de fazer toda essa cronologia para a construção dessa pré-candidatura a prefeito o senhor diria que chega como para essa disputa, com que proposta para ser apresentada ao eleitor da Capital?
Clécio - Primeiro que eu estou muito animado por ter sido escolhido pelo PSol para cumprir essa tarefa. Depois que eu quero cumprir essa tarefa, pois muita gente pergunta a alguns políticos se vão ser candidatos e eles dizem "não sei, depende, eu estou aí, meu nome", mas eu não, eu quero disputar essa eleição. Eu tenho uma vontade enorme de gerir, de administrar a nossa Capital, que precisa disso. E eu venho me preparando para isso ao longo do tempo, até por minha formação acadêmica de geógrafo.
Diário - O lado técnico prevalece nessa hora?
Clécio - O geógrafo por sua formação se debruça a compreender a cidade, a formação desse ajuntamento, desse aglomerado que as pessoas vêm fazendo cada vez mais, principalmente desde a década de 60. Naquela época nós tínhamos uma população eminentemente rural, quase 80% da população mundial morava no campo e apenas 20% moravam em aglomerados de cidades. Hoje é o contrário e em Macapá para se ter uma idéia 95% da população amapaense moram em aglomerados urbanos e na capital precisamente também, então é necessário nós compreendermos para que serve a cidade, ela tem funções básicas.
Diário - Quais seriam elas então?
Clécio - A cidade serve para morar, para trabalhar, para a gente circular e para a gente recrear. Se uma dessas funções não funciona a cidade está doente e Macapá hoje infelizmente é uma cidade adoecida por falta de gestão, por corrupção, por falta de planejamento estratégico e por falta de estratégias de desenvolvimento. Macapá é uma cidade que cresce geralmente a índices maiores que a média nacional, mas isso acontece desde a década de 50. Todos os Planos Diretores feitos para Macapá já apontavam que o crescimento da cidade seria a uma taxa anual de algo em torno de 5% e 6%, quer dizer, é de se esperar, os gestores da cidade deveriam esperar esse crescimento.
Diário - Daí o senhor ter dito que é importante o planejamento estratégico?
Clécio - Sim, tem um Plano Diretor de um instituto chamado HJ Cooler, da década de 70, que diz exatamente que nos anos 2000 Macapá teria algo em torno de 350 mil habitantes, quer dizer, acertou na mosca. Nós não podemos mais justificar que falta remédio no posto de saúde, que não funciona porque a taxa de crescimento é muito alta. Nós não podemos justificar que a nossa demanda é muito grande porque nós atendemos nossos irmãos aqui do Afuá (PA) e das ilhas, não, nós sempre atendemos esse povo, aliás, boa parte de nossos dirigentes, lideranças, funcionários públicos e políticos vêm dali, são irmãos nossos das ilhas paraenses. Eles vêm fazer tratamento de saúde, sim, mas andam de ônibus, pagam suas passagens, compram seus alimentos aqui, comem em restaurantes, compram a roupa aqui, passeiam aqui, enfim, eles não são um fardo, ao contrário, eles aquecem a nossa economia.
Diário - E para fazer frente a tudo isso, já que as gestões municipais sempre reclamam da falta de recursos para dar conta dos inúmeros serviços demandados pela população?
Clécio - É preciso fazer duas constatações. Primeiro tem um problema sim do pacto federativo. A vida acontece no município, mas o nosso pacto federativo inverte essa prioridade, então a União tem a maior parte do bolo orçamentário, depois vêm os Estados. O município é quem menos tem recurso, não é mesmo apenas nominalmente, é menos para sustentação do pacto federativo mesmo, porque boa parte das ações públicas está sendo municipalizada, a saúde foi municipalizada, a educação, o ensino fundamental foi muni-cipalizado, a segurança pública tende a ser municipalizada e isso não tem uma contrapartida orçamentária e financeira para fazer frente. A segunda constatação é de que é verdade que a reclamação dos prefeitos procede, o orçamento do município não dá conta de todas as demandas, ponto. Agora, daí a estadualizar os problemas do município é outra coisa. Jogar a responsabilidade do que é do município para o governo é outra história. Nós temos que dividir bem as responsabilidades e da mesma forma que o estado do Amapá não sobrevive sem a União o município de Macapá não sobrevive sem o Governo do Estado, aliás, qualquer município. Então é necessário que se faça essa interlocução, essa palavra infelizmente tão desgastada, mas tão bonita que é a parceria, que é fundamental, mas em padrões, em moldes em que cada um cumpra o seu papel.
Perfil
O amapaense Clécio Luiz é geógrafo, formado pela Universidade Federal do Amapá (Unifap), com especialização em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. É professor concursado da rede pública estadual, lecionando atualmente no Centro de Educação Profissional (Cepa), no curso de Turismo. Foi secretário de Estado da Educação no Governo Capiberibe e depois gestor do Banco do Povo. Em 2004 foi eleito para cumprir Mandato de Vereador de Macapá. Disputou a eleição para o Governo do Estado, em 2006; Em 2008 foi reeleito como o 4° vereador mais votado e em 2010 compôs a chapa encabeçada pelo senador Randolfe Rodrigues (PSol), como primeiro suplente.
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