Há mais de dez anos que o tema da reforma política aparece como necessidade para o país. Crescemos economicamente, políticas sociais implementaram mudanças que trouxeram uma nova realidade para o país, mas no plano político, estamos estagnados. Mudar o sistema eleitoral se tornou um desafio, do qual muitos políticos têm receio. O voto proporcional uninominal, em que o eleitor vota num candidato é um modelo superado. A falta de relação entre eleitores e partidos políticos enfraquece a democracia. Poucos dias depois de uma eleição, ninguém sabe em quem votou. No próximo dia 21 de março, o Senado fará uma sessão exclusiva para votar os temas da reforma política como: financiamento público de campanha, a exigência de referendo para alteração no sistema eleitoral do País, a mudança na data de posse de presidente da República, governadores e prefeitos, além de novas regras para as coligações partidárias. É uma oportunidade para o início de uma mudança. Realizar a reforma política é um dos passos para fortalecer o Legislativo, um poder heterogêneo como o povo brasileiro porque retrata os diferentes segmentos e interesses da sociedade. Não estamos em uma corte de sábios ou santos. Muitas vezes a opinião pública, por meio de seus canais de expressão, nos submete a julgamentos que priorizam e ampliam a visão dos problemas da instituição e não a sua importância para a Nação. É um fenômeno mundial, já hoje detectado como a crise da democracia representativa. Precisamos chegar a um modelo em que o eleitor se sinta vinculado ao eleito — e este, naturalmente, conheça e respeite seu eleitor —, em que as forças econômicas e corporativas tenham sua influência reduzida, em que os partidos possam se consolidar com a prática da democracia interna. E tenham princípios programáticos, reduzindo-se o seu número para que se formem maiorias estáveis e politicamente coesas. Apesar de ser um ano de eleições municipais, espero que Senado e Câmara finalmente vençam as barreiras e acenem ao país com uma estrutura política mais moderna e que acima de interesses partidários, fortaleça o voto do eleitor.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa
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