CORONEL CARLOS. O comandante da PM passa a limpo o aparelho de segurança pública em entrevista no rádio. |
Cleber Barbosa
Para o Diário do Amapá
Diário do Amapá – O senhor é natural de que estado comandante?
Coronel Carlos Corrêa – Sou paraense, mas agora com o título de Cidadão Amapaense, desde a última quinta-feira. Agora sou conterrâneo de você também, oficialmente... [risos]
Diário – Foi uma bela festa lá na Assembleia Legislativa, não é?
Cel Carlos – Muito bonita. A deputada Luciana havia me informado no quartel sobre essa homenagem, inclusive quando estávamos recebendo a Comissão de Segurança Pública, presidida pelo deputado Ericlaudio. Fiquei muito satisfeito, pois estou aqui desde 1990, portanto tenho 26 anos de Polícia Militar e 50 anos de idade, portanto tenho mais tempo da minha vida dedicado à PM e ao estado do Amapá. Não vou negar, fiquei extremamente envaidecido, orgulhoso, gratificado, pois tudo que você faz ser reconhecido dá uma imensa satisfação realmente.
Diário – Na carreira militar existe a previsão de punições para quem andar abaixo da linha de suas obrigações, mas também premiações para que superar essa expectativa, não é?
Cel Carlos – Sim, elogios, promoções, medalhas, isso faz parte também. Mas este fim de semana está sendo marcado também por mais um caso de baixas em nossa Polícia Militar brasileira, com o caso lá do Ceará onde nossos colegas estavam saindo para atender uma ocorrência em duas viaturas e nós perdemos três policiais de uma vez só, com um sargento sendo barbaramente assassinado. Aliás, as estatísticas apontam que morrem mais de um policial por dia no Brasil, portanto hoje ainda vamos perder mais um policial, infelizmente, ou em ato de serviço ou fora dele, mas em virtude de ser policial.
Diário – Esse é um dado preocupante.
Cel Carlos – Sim, e para ser hostilizado o policial nem precisa necessariamente estar de serviço. O bandido ao identificar um policial tem uma atitude muito violenta e todos estão acompanhando a situação lá no Rio de Janeiro, quando vem também a contrapartida da violência policial, o que é um tema muito complexo e que a gente precisa na minha opinião repensar a segurança [pública] no país, repensar a estrutura e as condições de trabalho das instituições de segurança, pois no meu entendimento o modelo atual está esgotado.
Diário – Ainda nesse campo das estatísticas, foi divulgado uma que dá conta de um grande gargalo representado entre o grande número de detenções feitas pela PM e o diminuto número de ocorrência que viram inquérito policial ou mesmo processo judiciais julgados.
Cel Carlos – Sim, apenas 3% chegam ao final. Sim, é todo um conjunto, pois nós fazemos parte de um sistema, hoje temos uma política nacional que desafio a falar uma lei que foi feita para a proteção do cidadão, pois as leis criminais todas são falando em liberação, em não encarceramento, e agora tem um pensamento de que em locais onde os presídios não comportam mais presos eles vão responder em casa pela acusação, em prisão domiciliar. E eu não vou aqui responsabilizar o Judiciário, o Ministério Público, do Executivo ou o Legislativo. Acho que todo mundo tem que
sentar, pois essa é uma responsabilidade social de todo mundo.
Diário – E desse tripé dos governos de eleger como prioridade a saúde, a educação e a segurança, tem surtido efeito?
Cel Carlos – Sendo que essas duas primeiras têm verba carimbada, né? Todos os estados adotam essa política, do Amapá ao Rio Grande do Sul. Aí você pode perguntar se a gente também queria verba carimbada para a segurança público, o que respondo indagando se isso realmente resolveria o problema, sabe? Sei que precisamos de mais investimento, mas antes a gente precisa tratar a segurança pública com a importância que ela merece e que o povo está pedindo. Como profissional de segurança digo que este setor interfere na qualidade da saúde e na qualidade da educação. Quando a gente melhora a segurança, por exemplo, aumentando o número de operações de trânsito, eu diminuo o número de fraturados no pronto socorro; quando o policiamento fica efetivo na rua, eu diminuo o número de tiros e de facadas, então melhora no hospital também.
Diário – E essa tem sido uma das marcas de seu comando, não é?
Carlos – Sim, as pessoas me abordam nas ruas e parabenizam pela qualidade do policiamento que nós estamos colocando nas ruas, o que nos deixa muito felizes em comandar a nossa instituição. Mas como um dos marcos aponto o policiamento escolar, que inclusive teremos agora no próximo dia 7 vamos fazer uma solenidade lá no Comando Geral, simples, mas que para mim representa muito, que é fazer a entrega de viaturas e das armas “taser” para esses policiais que atuam nas escolas, então vamos aproveitar as férias para prepara-los após a realização do primeiro curso de policiamento escolar.
Diário – Outra novidade é a implantação de um curso de formação dos oficiais da Polícia Militar do Amapá aqui mesmo em Macapá?
Cel Carlos – Na verdade esse foi um dos percalços que a gente teve que enfrentar. Quando assumi o comando, tinha uma turma de 56 cadetes na Academia de Polícia do Rio Grande do Norte, a partir de um convênio com a Polícia Militar do Amapá e por uma série de problemas administrativos essa parceria não prosperou e isso atrasou em quase seis meses a formação dos nossos oficiais. Então falei ao governador que poderíamos terminar a formação deles aqui mesmo no Amapá e em dezembro, se Deus quiser, teremos a conclusão do primeiro CFO [Curso de Formação de Oficiais] e todo o estado vai ver uma belíssima festa com a declaração do aspirantado desses homens e mulheres.
Diário – Os instrutores são da própria instituição coronel?
Cel Carlos – Sim, nós temos vários profissionais extremamente habilitados, que tem formação e várias especializações na área pedagógica também por gostar dessa área, nosso diretor de ensino, nosso centro de formação, enfim, são todos pedagogos, tenho doutores dentro da Polícia Militar e que são instrutores, tanto do nosso curso como do curso de medicina da nossa universidade. Mas também temos outros vários parceiros, como a UEAP que está possibilitando oferecer o curso superior de polícia, que habilita o oficial a sair coronel.
Diário – O filme “Tropa de Elite” desnudou muitas mazelas da PM do Rio de Janeiro, mas também mostrou a filosofia do policiamento preventivo, da chamada mancha criminal dos batalhões de área. Como é isso na prática?
Cel Carlos – Essa é nossa missão precípua constitucional, é a prevenção ao crime. Das minhas unidades mais pedidas para o combate à criminalidade temos o Batalhão de Operações Especiais, o BOPE. Mas esta é nossa unidade especializada para eventos críticos, com tropa de choque, cães, o GIRO [motos], a ROTAM, então o BOPE é quando o negócio já desandou. O que eu valorizo e meus comandantes de área estão fazendo é trabalhar para a redução da criminalidade, com essa mancha que chamamos tecnicamente de mapa termal, são eles que fazem as reuniões comunitárias e coordenam o policiamento escolar. Também tocam os projetos sociais, como PROED, Peixinhos Voadores e Cidadão Mirim, enfim, que trabalham a prevenção primária, enfim, uma gama de atividades para que melhore a condição de segurança nos bairros, a chamada polícia preventiva.
Perfil
Entrevistado. José Carlos Corrêa de Souza tem 50 anos, é casado e pai de um filho. Nasceu em Belém (PA) onde iniciou a carreira militar pelo Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR) do Exército Brasileiro, no 2º Batalhão de Infantaria de Selva. Depois, em 1990, ingressou por concurso público na Polícia Militar do Amapá, onde realizou os curso de Aperfeiçoamento de Oficiais e Curso Superior de Polícia, ambos pela Academia de Polícia Militar Senador Arnon de Melo, em Maceió (AL); Possui Pós-Graduação em Gestão de Segurança Pública, pela Unisul, em Santa Catarina; Ocupou diversos cargos na PM-AP, como comandante de batalhões e também como diretor de ensino, diretor de operações, sub-comandante, corregedor e comandante-geral.
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