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sábado, 25 de fevereiro de 2012

"Um nome violentado", por Gilberto Kassab

É impossível ignorar que o presidente do Senado, José Sarney, tem a uma imagem distorcida pela mídia. Conheço Sarney desde 1967, quando ele vinha ao Rio de Janeiro, e eu trabalhava, então, no velho Jornal do Brasil. Sarney inaugurava o mandato de deputado federal, mas sei que militava na política desde o ginásio, quando combatia a oligarquia do velho senador Vitorino Freyre, do PSD. Foi um dos criadores da chamada "Bossa Nova". Certa vez, assisti Sarney ser agredido pelo senador Daniel Krieger, da cúpula da UDN e que não o perdoava, por integrar o novo grupo, que se propunha a renovar o partido. Krieger, Bilac Pinto, Adauto Lúcio Cardoso, os bacharéis da UDN, acusavam Sarney, José Aparecido, Ferro Costa, de promoverem a divisão do partido.
José Sarney também não pode ser apontado como um político reacionário. Basta lembrar que foi um dos criadores da Frente Parlamentar Nacionalista, ao lado de figuras marcantes, como Sérgio Magalhães, Leonel Brizola, Ferro Costa, José Aparecido, entre muitos outros expoentes. Suas preocupações com a questão social sempre o incluíram como um parlamentar de seu tempo, considerado por isso um político progressista. Em seu governo, foi José Sarney quem convocou a Assembleia Nacional Constituinte de 1988.
Foi ele quem pronunciou o primeiro discurso sobre ecologia no Senado, como os anais da Casa podem mostrar, ainda na década de 70, e se empenhou pela realização no Brasil da Eco 92. Ainda não se falava em Informática e foi Sarney quem se bateu pela criação do Prodasen, o primeiro grande centro de processamento de dados federal. Em dezembro de 1978, Sarney foi designado relator, dando parecer sobre a Emenda Constitucional n° 11, que revogou todos os atos institucionais e demais atos de exceção impostos pelo regime militar.
Ele fazia questão de estabelecer, entre os seus objetivos, o estado social de direito, o welfare state, ou o estado do bem estar social. Foi Sarney quem criou o que hoje se chama o SUS, o Sistema Único de Saúde, com o nome de SUDS, e isso antes que a Constituinte entrasse em funcionamento. Foi Sarney que legalizou os partidos, que os militares haviam proscrito, inclusive o Partido Comunista Brasileiro, recebendo seus principais líderes no Palácio do Planalto. José Sarney também foi pioneiro na ecologia, em que se tanto se fala hoje em dia.
A mais importante e arriscada ação política de Sarney ocorreria quase ao fim do ano de 1984, quando o governo Figueiredo chegava ao seu ocaso. Foi a formação da Frente Liberal, complexo e arriscado projeto político que resultou na eleição na Tancredo Neves e do próprio Sarney. Legalizou a vida político-partidária, abriu as portas do Planalto para os comunistas que viviam na clandestinidade, garantiu a liberdade sindical, instituiu a liberdade de imprensa, acabando com a censura prévia, e abriu caminho para a realização de eleições livres nas capitais.

Gilberto Kassab, presidente do PSD e prefeito de São Paulo

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