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sábado, 2 de abril de 2016

ARTIGO | José Sarney: "A máquina do tempo"


O velho Andrada, presidindo a Câmara dos Deputados, dizia, quando o orador ia mal: "O tempo está esgotado. O tempo, o amigo". Se o orador ia bem, mudava: "O tempo, o inimigo".
E o que é o tempo? A primeira das mais fundamentais descobertas do homem. Daniel Boorstin dizia que "somente criando os meses, as semanas e os anos, os dias e as horas, os minutos e os segundos, pode a humanidade libertar-se da cíclica monotonia da natureza".
Cada ano que passa serve para contar a vida, contabilizar tristezas e alegrias, ganhar forças de esperança para o futuro.
Mas não foi fácil descobrir como contar o tempo. O universo funciona na sua eternidade, com suas leis, alheio à noção de aferição. É o silêncio imperturbável, do qual saímos buscando referências. Primeiro a Lua, depois o Sol, os planetas, as estrelas.
A Lua foi a primeira referência, observando o seu ciclo. Os povos primitivos regulavam a vida pelas fases lunares; da lua nova à lua cheia. Era a primeira medida do tempo.
Depois o homem precisava organizar um calendário para saber das estações, a época do plantio, do frio, da caída das folhas, do desabrochar das flores, do crescimento dos frutos; enfim, saber o mistério das estações. Voltou-se para os astros, já que as fases pequenas da lua não lhe ofereciam respostas seguras às suas necessidades. A descoberta de que a Terra girava ao redor do Sol deu a chave de uma medida exata para contar os dias em que nosso planeta voltava ao mesmo lugar, completando sua órbita. Dezenas de calendários foram inventados: para cada cidade, cada povo, cada país e outros mais. E os dias da semana? Foram descobertas recentes.
A Revolução Francesa (1789) nomeou uma comissão para elaborar um calendário. Laplace fazia parte dela. Criou uma semana de dez dias, o mês de 30, mas faltavam cinco dias para fechar o ano cósmico de 365. Na China, só em 1911 se introduziu o calendário gregoriano e, na Rússia, só em 1940! Em 1929, a semana russa era de cinco dias.
As festas religiosas geraram as primeiras necessidades de organização de um calendário para compatibilizar os textos bíblicos com a descoberta do tempo (a Páscoa, a Paixão, o Natal). Foi o papa Gregório 13 quem resolveu a questão.
Faltava descobrir a máquina de medi-lo com exatidão. Começou com relógio de sol e sombra, de água, de vela, de peso, até Henrygens e Harrison, um acusando o outro de plágio quanto à invenção da máquina de corda. "Meu propósito, disse Kepler, é demonstrar que a máquina do universo é uma máquina de relojoaria". É fascinante a história da incorporação do tempo e do relógio ao mundo e às nossas vidas.
Depois, em 1999, véspera do terceiro milênio, renovávamos as mesmas crenças e as mesmas saudações ao ano que chegaria. Nós inventamos os anos e hoje eles são maiores do que nós e dominam o nosso destino e espírito.
Em cada lugar, em cada relógio, o Ano Novo marca, para cada homem, em todas as latitudes, essa obra de Deus, a obra da criação. Foi Ele quem nos deu a graça da vida para os descobrimentos e a liberdade.
Que sejam bons anos.

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