PUBLICIDADE

domingo, 8 de junho de 2014

“O reconhecimento pelo o que a gente faz é o pagamento por ser político”

Jonas Pinheiro. O ex-senador retoma a carreira política no Amapá e fala das propostas para ser governador do Estado. 
Ele já foi senador pelo Amapá e há 20 anos foi ao segundo turno na eleição para ser governador do Estado, quando faltou pouco para ser o mandatário dos amapaenses, perdendo aquela disputa para João Capiberibe, que viria a ser governador. E está de volta à cena política, novamente tentando assumir o comando do Palácio do Setentrião e da direção administrativa do Estado. Do alto dos quase 70 anos de idade, Jonas Pinheiro foi sabatinado ontem no rádio, dentro do projeto do programa Conexão Brasília, da Diário FM, que está ouvindo pré-candidatos à sucessão estadual deste ano. Um resumo do que ele disse ao jornalista Cleber Barbosa o Diário do Amapá publica a seguir, com reflexões de Jonas sobre a política, a economia, a segurança pública e outros pensamentos.
Cleber Barbosa
Da Redação

Diário do Amapá – O seu mandato de senador não foi de oito anos, por que?
Jonas Pinheiro – Cada estado tem três senadores e tem um mínimo de oito deputados e um máximo de setenta. Uma coisa que as pessoas não compreendem é porque no Senado são três senadores para cada estado e na Câmara existem bancadas de 30, 40 ou até 70 deputados por estado. É que o senador representa a unidade da federação, o Estado. Já o deputado representa o povo, a população daquele Estado. Como a população é variável, ou seja, uns estados tem mais gente outros tem menos, então há essa variação nas bancadas na Câmara dos Deputados. Mas sobre a sua pergunta o Amapá foi transformado em Estado com a Constituição de 1988 e instalado com a primeira eleição com a primeira eleição de governador – porque os governadores eram nomeados – que ocorreu em 1990, com a eleição do governador, dos três senadores, o aumento dos deputados federais e a chegada dos deputados estaduais. 

Diário – E o senhor foi um desses três senadores?
Jonas – Exatamente. Mas nós tínhamos que ter três senadores e naquele ano cada estado estava elegendo um, para cobrir a vaga daqueles que foram eleitos em 1982, com mandato de oito anos. Em 1986 esses estados elegeram dois senadores também com mandatos de oito anos, que terminava em 1994. Então era preciso que o Amapá elegesse um igual aos outros estados, com mandato até 1998 e dois com mandatos de apenas quatro anos, para empatar com os outros estados. O critério era de que o mais votado ficaria com mandato de oito anos e o segundo e terceiro com mandato de quatro.

Diário – O mais votado naquele ano foi Sarney?
Jonas – Sim, o presidente Sarney foi o mais votado. E eu e o Henrique Almeida ficamos com mandatos de quatro anos.

Diário – E o que mais lhe trás boas recordações nessa passagem sua pelo Senado?
Jonas – Olha, além das atividades normais de parlamentares e também como líder da bancada do PTB no Senado, o que é muito difícil, quando tínhamos oito senadores do partido, especialmente vindo de um estado pequeno como o Amapá. Mas a população nem toma conhecimento disso, nem percebe. Mas são muitas boas recordações em defender os interesse da nossa população e de estar à disposição de governadores diante de todas as reivindicações que são conduzidas. Além de tudo tem um fato singular, relacionada à educação. É que certa vez numa viagem a Oiapoque deparei com três crianças que iam para escola, mas não tinham cadernos e sim pedaços de papel desses de embrulhar sabão. Quando cheguei em Brasília aquilo ainda martelava na minha cabeça, as crianças não tinham cadernos.

Diário – O que fez então?
Jonas – Quando a gente assume o mandato vem um funcionário do Senado e diz tudo aquilo que a gente tem direito, como serviços de impressões de publicações na gráfica do Senado. Como quase não tinha utilizado a minha cota decidi transformar a minha verba toda em cadernos e assim foi feito. Depois o projeto cresceu e se transformou num kit educação que até hoje encontro pessoas que dizem ter estudado com aquele material que mandei distribuir aqui no Amapá.

Diário – E agora que é candidato a governador o que pensa para melhorar a relação do Executivo com a classe do magistério?
Jonas – Lembro que há 20 anos eu estava na disputa pelo Governo do Estado também e num debate com o então candidato João Alberto Capiberibe uma comissão de professores ligados ao PT me apresentou um documento com reivindicações que se eu assinasse eles fechariam apoio à minha candidatura. Eu li a pauta e dei a seguinte resposta, que daria novamente hoje: não posso assinar porque não sei como vou encontrar o orçamento do Estado, que já vai estar votado e provado. Não sei quais são os compromissos que já vão estar assumidos, então não posso assumir que vou fazer que não sei se terei os instrumentos para fazer. Agora só peço que confiem em mim, já que sou educador, pois sei da importância daqueles que fazem a educação, então creiam que farei o melhor que for possível fazer pela categoria.

Diário – E o outro candidato, assinou a proposta?
Jonas – Assinou na hora, sem discutir. O Capiberibe ganhou a eleição e não fez absolutamente nada, não atendeu nenhuma reivindicação que havia assinado embaixo que iria cumprir e ao fazer isso desrespeitou a própria palavra. Eu não assinei, mas também não menti, não enganei. Não fui eleito, mas me mantive de cabeça erguida e ele depois ainda rasgou o estatuto do Magistério, num ato mais adiante.

Diário – Existem propostas tramitando no Congresso Nacional com mudanças radicais na estrutura das polícias, como a desmilitarização da PM e a adoção de carreiras únicas, ou seja, o policial iniciando como investigador e chegando até delegado de polícia. O senhor se alinha a esses novos pensamentos para uma futura política de segurança pública?
Jonas – A complexidade desse tema é muito grande e é um assunto para discussão nacional, pois está nas comissões constituídas tanto na Câmara como no Senado. Eu advogo que tudo na vida caduca e precisa ser modernizado e esse modelo realmente está ultrapassado e acredito que ele não tem um futuro muito longo. A unificação das polícias é um tema recorrente, só que não é assim, juntar polícia civil com polícia militar. Há uma enormidade de tarefas pela frente, de detalhes, de minúcias na organização das carreiras. O Estado do Amapá irá certamente contribuir muito, porque nós vamos dar todo o apoio para a voz do Amapá ser ouvida nas comissões do Congresso Nacional e vai ser de lá que será irradiado o projeto que deverá ouvir o país inteiro e não só o Amapá. Nós estaremos lá apoiando, pois o Governo é o maior interessado.

Diário – E para o turismo do Amapá, quais são as suas reflexões para este setor da economia local?
Jonas – Primeiro que nós temos um potencial turístico invejável. Só em Macapá, por exemplo, nós temos duas singularidades. É a única capital brasileira banhada pelo Rio Amazonas e também a única cortada pela Linha do Equador. Entretanto temos uma desvantagem geográfica que é sermos terminalidade geográfica, não somos passagem, quem vem aqui de Belém volta a Belém. Para o turismo isso dificulta. Não tenho uma resposta pronta sobre o que irei fazer, mas uma coisa está pronta na minha cabeça: vou ouvir os operadores do turismo, porque vai depender muito da infraestrutura, hoteleira principalmente, como a infraestrutura de serviços que sabemos o Amapá tanto precisa. A qualificação desses prestadores de serviço de restaurantes, de bares, de guias turísticos, enfim, tem toda uma cadeia de atividades ligadas ao turismo que precisam ser desenvolvidas.

Diário – O que o senhor pensa da política senador, que vive tantos revezes atualmente no país?
Jonas – O reconhecimento pelo que a gente faz é o pagamento de ser político. Eu falo sempre me conduzi e me pautei por essa conduta, que quero o cargo é para a gente servir e não para se servir. É preciso ter vocação, como tudo na vida, como um médico que faz o trabalho bem feito falam que é porque ele nasceu para aquilo. Na verdade é vocação. Então na política também é assim, há os que têm vocação para servir e fazem bem o seu papel, têm sensibilidade e tem compromisso com a população. Os que entram por oportunismo são aqueles que vêm outros que eram pobrezinhos e enricaram depois da política, então querem fazer o mesmo.

Perfil...

Entrevistado. Jonas Pinheiro Borges tem 68 anos de idade, nasceu em Vera Cruz (RN). Chegou ao Amapá aos 8 anos, já que parte de sua família havia migrado para o Estado, iniciando atividades na agricultura. Depois de alguns anos retornou ao Nordeste para continuar seus estudos, diplomando-se em Matemática, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Lecionou e também foi diretor de escolas até receber convite para retornar ao antigo Território Federal do Amapá. Coordenou o Sesc, com ênfase no apoio à cultura tornando-se popular. Disputou a primeira eleição para o Senado e elegeu-se para um mandato de apenas quatro anos. Depois disputou o Governo do Estado, indo para o segundo turno com o  o ex-governador João Capiberibe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário