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domingo, 8 de junho de 2014

“O ex-governador Waldez e o atual Camilo não deverão polarizar a eleição deste ano”

Chelala. Economista e professor fala no rádio sobre as suas principais propostas para virar governador do Amapá.
Mais um pré-candidato a governador do Amapá submeteu-se a uma sabatina no rádio ontem. Foi Charles Chelala, economista por formação e tido como um dos mais preparados técnicos em atuação no Amapá, apesar de ser um estreante na política, afinal jamais foi submetido ao voto popular. Mas tem larga experiência na administração pública, nos diversos cargos que já ocupou na carreira, os mais recentes tendo assessorado dois senadores do Amapá, João Capiberibe (PSB) e Randolfe Rodrigues (PSol). Para ele, o ex-governador Waldez (PDT) e o atual, Camilo Capiberibe (PSB), não devem polarizar a disputa para o GEA este ano, quando ele espera ser o que se convenciona chamar de terceira via. Acompanhe os principais trechos da entrevista concedida ao jornalista Cleber Barbosa.

Cleber Barbosa
Da Redação

Diário do Amapá – O senhor já morou em Brasília então sabe a importância de uma boa articulação por lá para conseguir carrear os recursos que o Estado tanto precisa não é?
Charles Chelala – De fato já atuei em dois momentos, nunca com estabelecimento fixo em Brasília. Fui coordenador dos escritórios regionais de dois senadores. Entre 2003 e 2005 do senador João Alberto Capiberibe, no escritório regional dele aqui no Amapá e de 2011 a 2012 do senador Randolfe Rodrigues. A partir de 2013 assumi a Secretaria da Governadoria da Prefeitura [de Macapá], aí deixei [Brasília]. Mas conheço bem sim.

Diário – Uma pergunta que vem do chamado Trade Turístico é sobre como pensam aqueles que se propõem a governar o Amapá a respeito deste importante setor. Ninguém quer mais saber só de ouvir falar em potencial turístico. E o senhor vê como as chances do turismo ser incrementado por aqui?
Chelala – Eu acho que nunca foi feito um trabalho sério em relação ao turismo no estado do Amapá. O que se tentou fazer sempre foi pensando em soluções muito maiores do que as nossas pernas poderiam alcançar e por isso não saímos da estaca zero. Na minha humilde opinião o nosso turismo tem que ser focado nos nossos clientes potenciais. Então não adianta que hoje eu não vou disputar o transatlântico que vai para o hotel de selva em Manaus ou que vai para o hotel de selva do Pará. Esse vai vir um pouco depois. Eu hoje quero conquistar três ou quatro nichos que já estão vindo para cá, mas que são pouco aproveitados.

Diário – Como assim?
Chelala – Primeiro que quando a gente viaja aí para Belém, Salinas, Fortaleza a gente esbarra com amapaenses, então precisamos primeiro fazer um trabalho de turismo interno, com os próprios amapaenses. Faça uma pesquisa, pergunte quantos conhecem a Cachoeira de Santo Antônio no Jari, a Cachoeira Grande no Amapá, os sítios arqueológicos de Tartarugalzinho, muito pouca gente. O segundo é atrair aqueles que estão mais próximos de nós.

Diário – Por exemplo?
Chelala – Veja que na época de Carnaval, do Natal, o pessoal da Guiana Francesa enfrenta todo tipo de agruras e mazelas para conseguir chegar e passar um período de festas aqui, fazer suas compras, enfim. Se nós formos um pouco eficientes conseguiremos trazer uma leva muito maior de turistas de Caiena para cá. E também pegar as pessoas do Pará, do Nordeste coisas que de fato só tem no Amapá. Você pode montar excursões bem estruturadas para ir à Foz do Rio Amazonas, por exemplo, muita gente gostaria de estar lá, tomar banho em uma daquelas praias que se formam quando seca o rio, se banhar na foz do Amazonas e depois entrar em um daqueles furos e conhecer algumas daquelas comunidades. É algo que é possível ser feito. Isso é potencial que precisa ser resolvido, se pensar um pouco mais.

Diário – Tem um terceiro?
Chelala – O turismo de negócio. Se você verificar nos hotéis quem são essas pessoas que vêm aqui a negócio, são consultores, empresários, enfim, pessoas que estão vindo aqui, participam durante o dia do seu trabalho e à noite o máximo que fazem é comer um camarão na Beira-Rio e no outro dia voltam para suas cidades. Se você trabalhar, você convence-o a ficar um pouco mais no Estado por dois ou três dias.

Diário – O pano de fundo dessa atividade turística é o lado econômico, ou seja, melhorar a arrecadação do estado, daí sua preocupação também com essas mais de 50 atividades que o turismo impacta?
Chelala – Exatamente. O objeto meu de pesquisa durante o Mestrado e durante toda a minha vida acadêmica sempre foi a questão da presença do estado na participação da economia do Amapá, a força do contracheque público que se fala tanto. Eu acho que é preciso fazer todo o esforço possível para se deixar de depender disso. Acredito que existe uma confluência de fatores que podem permitir ao Amapá a se tornar cada vez menos dependente. Outro dia publiquei um artigo que falava sobre o agronegócio, que pode levar o Amapá a se tornar a nova fronteira agrícola. Já falei também sobre criar um ambiente favorável para atrair investimentos, quando o governo tem que ser um pouco mais proativo em relação a isso.

Diário – Os incentivos fiscais, por exemplo?
Chelala – Não é apenas como se pensava antigamente, baixar impostos. A política fiscal eficaz é apenas um aparcela, primeiramente é preciso se ter estabilidade política. O empresário só vai investir se ele tiver segurança no ambiente onde ele vai colocar o dinheiro dele. Nós tivemos durante um bom tempo aqui, especialmente após a operação Mãos Limpas, da Polícia federal, um ambiente muito complicado, do ponto de vista do Amapá ser associado à corrupção. Se o ovo da serpente da corrupção parte de dentro do palácio do governo, se espalha por outros órgãos e por outros Poderes o empresário vai ter muito receio.

Diário – Credibilidade, é isso?
Chelala – Sim e sou totalmente contrário àqueles que tentam diminuir a questão da Operação Mãos Limpas, pois acho que ela foi extremamente importante por ter desbaratado um esquema real de corrupção, não podemos jogar isso para debaixo do tapete.

Diário – E sobre o desenvolvimento, quais suas propostas?
Chelala – Aí vem a questão da infraestrutura. O Amapá é o pior estado em termos de saneamento básico, o Amapá não tinha e agora está muito próximo de resolver, interligação com o sistema nacional de energia elétrica. O Amapá não tem um porto capaz de escoar toda a sua produção, veja agora o que aconteceu em Santana onde há mais de um ano está se estocando uma montanha de minério porque ocorreu um acidente no único porto de embarque de minério de ferro. Todo mundo fica culpando a empresa quando quem sofre de verdade são os 2 mil empregados que estão de férias coletivas.

Diário – Nós tivemos no Amapá nos últimos anos a polarização da disputa pelo poder no Estado, ora com o PSB, ora com o PDT. A sua candidatura vai se contrapor a isso, Waldez e Camilo?
Chelala – o PSol construiu uma trajetória a partir de 2010 com a eleição do senador Randolfe Rodrigues a senador e hoje pré-candidato a presidente da República e depois em 2012 com a eleição do prefeito Clécio Luiz. Esse caminho credencia o partido a apresentar uma candidatura própria [ao governo do estado], que se coloca como uma real oportunidade diante desse crescimento que obtivemos nesses últimos anos. Esses dois polos, do grupo da harmonia, que foi responsável pelas páginas mais negras da história do Amapá, está querendo voltar. O atual governador ostenta hoje baixos níveis de popularidade e está tentando permanecer. Eu acho que esses dois não vão polarizar a eleição, que será pulverizada. Hoje tem onze pré-candidatos, mas vai terminar com cinco ou seis candidatos e quero ser um deles.

Diário – Para terminar, qual a nota que o professor Chelala daria para o governador Camilo?
Chelala – Atualmente eu tenho cerca de 120 alunos, então tenho que dar nota a todos eles, mas não vou dar nota pro governador, isso quem dá é o eleitor no momento da urna, mas agradeço a pergunta... [risos]

Perfil

Entrevistado. Charles Chelala é economista, mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Amapá e professor universitário. Nunca foi candidato a nenhum cargo eletivo, mas já exerceu diversos cargos públicos, foi secretário de Planejamento do Governo durante o mandato de João Capibaribe e coordenador do Programa de Modernização Fazendária do Amapá. Filiado ao PSol, atualmente é secretário municipal de governo da Prefeitura de Macapá e assessor do senador Randolfe Rodrigues, a pré-candidatura de Charles Chelala foi aprovada por unanimidade pelo partido no Estado. Chelala admite que o fato de jamais ter disputado uma eleição na vida será uma adversidade a ser controlada 

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