A abertura da ponte binacional sobre o Rio Oiapoque – uma conquista histórica – será um marco para os políticos de nossa contemporaneidade. Pertenço a uma geração que cultua a França como berço de cultura. Líamos os clássicos franceses com a mesma frequência com que líamos os de língua portuguesa.
São Luís do Maranhão, por exemplo, foi fundada por franceses comandados por Daniel de la Touche, em 1612, que pretendiam fundar ali a França Equinocial, orgulha-se de sua origem. “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, foi traduzido em São Luís no mesmo ano de seu lançamento na França.
O romantismo como corrente literária chegou ao Brasil por meio daquele país, das obras de Madame de Staël, de Lamartine, de Alfred de Vigny e outros.
A primeira obra romântica da literatura brasileira, “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves de Magalhães, antes de ser editada no Brasil foi publicada em Paris, em 1836.
O positivismo de Auguste Comte encontrou no maranhense Teixeira Mendes um de seus principais adeptos em todo o mundo. O Exército brasileiro, aliás, desde sua origem, teve o positivismo como doutrina norteadora.
Temos vínculos históricos profundos com a pátria de Victor Hugo. O Iluminismo, o legado dos enciclopedistas, os ideais de liberdade, igualdade, fraternidade da Revolução Francesa constituem patrimônio comum.
A importância da França para nós não decorria de sua influência econômica ou política no mundo, mas do brilho e do prestígio de sua cultura.
A língua francesa sobretudo, pois como dizia Fernando Pessoa, para afirmar a importância do idioma, ``minha pátria é a língua portuguesa''.
O que se constata hoje é que o francês vem perdendo terreno para a língua inglesa, que ameaça, dentro de duas ou três gerações, ser língua mundial.
Quando presidente da República implementamos o Projeto França-Brasil, a fim de intensificarmos as trocas culturais, o intercâmbio e aumentarmos os laços de solidariedade. Assinei o projeto com o presidente François Mitterrand.
A primeira visita do presidente Jacques Chirac ao Brasil significava a retomada dessa tradição, a França tornando-se exatamente em nosso Amapá como a ponte entre o Mercosul e a Comunidade Europeia, e colocando-se como um interlocutor válido no novo cenário mundial, onde a bipolarização não mais existe.
Não deve haver mais lugar para potência hegemônica; os países devem organizar-se em comunidades regionais.
Foi o presidente Jacques Chirac quem afirmou em seu discurso no Parlamento brasileiro: “A França considera que essa evolução do mundo é a melhor resposta ao desmantelamento da ordem bipolar. Somente ela é capaz de instaurar um novo equilíbrio mundial duradouro que seja justo, pacífico e aceitável por todos”.
E mais adiante: “Dentre esses polos do futuro, quem poderia ignorar a ascensão igualmente da América do Sul? Hoje é a América do Sul que se lança por sua vez nesse vasto movimento de integração regional em resposta às necessidades e às aspirações dos povos desta região”.
Que a França volte a ocupar o seu lugar no Brasil, onde já esteve, com a fundação da Universidade de São Paulo, a vinda da missão militar francesa e a formação cultural de novas gerações.
O diabo foi a nova geração aceitar, com os enlatados, os best sellers e o fast food. E agora, com a ligação rodoviária com o Amapá, de colocar uma garrafinha com a pimenta tucuju na mesa de seus restaurantes.
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