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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

“Tenho plena convicção de que o Amapá está com seus alicerces concretados para o futuro”

CAD4-1 SARNEY MELO
Jornalista Luiz Melo, quando entrevistava em sua residência o senador José Sarney
Recepcionado no aeroporto de Macapá por volta das 20h dessa sexta-feira, 1, por políticos de vários partidos, o senador José Sarney manifestou otimismo com relação ao futuro do Amapá, afirmando que os alicerces para a construção de um grande estado já estão concretados. Na manhã de ontem, o diretor superintendente do DA Rádio/Jornal, jornalista Luiz Melo, recebeu o ex-Presidente da República, em sua residência, no Santa Rita. Trocaram dedos de prosa e o resultado da conversa você confere a seguir.
Como o senhor avalia o atual momento político por qual passa o Amapá?
José Sarney - Com muito otimismo e, ao mesmo tempo, com uma preocupação muito grande. Otimismo, porque tenho plena convicção de que o Amapá já está com seus alicerces concretados para o futuro; preocupação, porque apesar da forte convicção que tenho de que o povo amapaense vai saber escolher os seus governantes nas eleições deste ano, os ungidos pelo voto terão que continuar a edificação do grande estado que idealizamos e ajudamos a construir os pilares básicos. De uma forma geral, estou certo de que os caminhos já estão muito bem pavimentados.

Sete candidatos concorrem ao governo do estado nas eleições deste ano. Como o senhor está vendo o processo eleitoral?
Sarney - Ao longo da minha vida sempre fui idealista e aprendi a ser otimista com moderação e responsabilidade. Venho acompanhando e participando ativamente da campanha eleitoral no Amapá, sob vários focos. A campanha começou tímida, bem depois do período de sua ocorrência em eleições anteriores, por causa da Copa do Mundo, fenômemo esse, aliás, que pode ser considerado normal. A única coisa negativa é a judicialização das eleições, com tantas ações ajuizadas, a maioria só pra tentar tumultuar o pleito.

O senhor disse que está participando ativamente do pleito. De que forma, já que o senhor não é candidato?
Sarney - Olha, Melo, eu tenho uma responsabilidade muito grande com o Amapá e com todos os amapaenses. Dediquei significativa parte da minha vida a este estado, o que me obriga a jamais recuar dos meus propósitos, continuar contribuindo diretamente para essa evolução. Por isso, minha participação no processo político é como a de qualquer cidadão que concentra muita garra e senso crítico para que o resultado seja o melhor para quem quer que for de fato continuar a construção de um grande estado.

O senhor está apoiando diretamente, inclusive pedindo votos a algum candidato?
Sarney - É claro que sim. Sempre fui leal às minhas convicções e ao meu partido. Eu sou filiado ao PMDB e apoio os candidatos da coligação à qual o meu partido pertence.

Significa dizer, então, que o seu candidato ao governo é Waldez Góes?
Sarney - Não apenas o Waldez Góes, como também o Gilvam Borges, ao Senado. Waldez, por entender que a experiência e o trabalho dele nos dois mandatos anteriores o credenciam para continuar essa obra de construção do Amapá do futuro, com o perfil ideal para fazer retornar a harmonia na política local. Gilvam, porque ele já demonstrou em mandatos anteriores que como senador pode muito bem continuar contribuindo para termos um Amapá forte e futurista, com igualdade social e com os olhos focados no futuro. Eu não tenho nenhuma dúvida de que eles vão eleger-se.

A aposentadoria, em termos de disputa de cargos eletivos, já está concretizada. O que o senhor planeja fazer daqui por diante?
Sarney - Aposentadoria na disputa de cargos eletivos, sim. Mas continuo em plena atividade, principalmente nas questões que envolvem o Amapá. Mas, você quer mesmo saber o que vou fazer daqui pra frente, né?

Olha, Melo, são muitas as alternativas, mas independentemente do que vou fazer, não deixarei de continuar interferindo em assuntos políticos do Amapá, quando eu puder contribuir de alguma forma para que o povo amapaense seja beneficiado.
E a ONU?
Sarney - É. Também soube que andaram escrevendo sobre isso nos jornais, mas não foram pelas minhas palavras. E tampouco fui consultado sobre o assunto.

O exercício da política implica, naturalmente, controvérsia e antagonismo. Ao longo da sua trajetória política, o senhor teve de lidar com denúncias de irregularidades. De que forma o senhor convive com denúncias e críticas?
Sarney - A política é cruel, lida com a crueldade. O embate político não tem limites. A primeira coisa que muitos fazem na política é tentar desqualificar o adversário. Então se inventa tudo e se é submetido a todas as injustiças. Quanto mais responsabilidade, mais se é combatido. Isso faz parte da prática e da instrumentação política. Isso é terrível pra quem faz política e desmoraliza a atividade política. Por isso, o povo julga tão mal os políticos. São os próprios políticos que constroem esse julgamento. Quanto a mim, como`sei que são inverdades, eu lido como se fosse com uma terceira pessoa. Eu lido com absoluta tranquilidade. Eu sou cristão e Deus me deu essa graça. Deus já fez tanto por mim, como o país em que ele me fez nascer e a vida que ele me permitiu construir, tanto na literatura quanto na política. E ele me pede uma coisa apenas: “Perdoai os vossos inimigos”. Por que eu vou negar isso a ele? Então eu perdoo e fico tranquilo, numa boa. Na História do Brasil, muitos sofreram ataques, como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e presidentes. Mas eu vejo que tudo isso passa. Os excessos que a imprensa constrói, o tempo destrói.

O senhor completou 84 anos, passando por um susto. Teve de ser internado, para tratar do coração. É natural que, neste momento da vida, a morte se torne um assunto delicado. O senhor tem receio da morte? De que forma lida com a ideia da morte?
Sarney - O corpo começa a dar sinais, algumas peças começam a ficar com a validade vencida (risos). Eu até escrevi um poema, Homilia do Juízo Final, em que eu termino dizendo: “Tenho um encontro com Deus. / – José! onde estão tuas mãos que eu enchi de estrelas? / – Estão aqui, neste balde de juçaras e sofrimentos”. Juçara é outro nome para o açaí.

Nos vários cargos que o senhor exerceu, qual foi o momento mais difícil?
Sarney - Foi quando me ligaram de madrugada, avisando que eu iria assumir a Presidência da República. Não conhecia o ministério nem o programa de governo. Todos diziam que a democracia iria morrer nas minhas mãos. Mas não morreu. Pelo contrário, floresceu. Eu convivi com grandes homens públicos. Cada um tem o seu tempo, e corro o risco de terminar fazendo alguma injustiça. Mas, se eu tivesse que apontar aquele de quem mais sinto falta, seria de Tancredo Neves.

Nos seus vários mandatos, há algo que o senhor considere que seja o seu legado político para o Brasil?
Sarney - Eu destaco a transição democrática, pois depois a democracia se consolidou no país, e os programas sociais, que tanto bem fazem para o povo brasileiro. Depois de ser Presidente, tive a felicidade de ver todas as classes sociais chegando à Presidência da República, colaborando com a vida do país. A República começou com os barões do café, passou pelos militares, pelos bacharéis e tivemos um operário como presidente. Hoje, temos uma mulher na Presidência. Há país mais democrático que o Brasil? Há exemplo maior do que esse? Isso foi fruto de um trabalho que passou pelas minhas mãos. Quando fui Presidente da República (1985-1990), houve uma mudança de foco. A prioridade era apenas econômica e eu coloquei a causa social na pauta da política brasileira. Todos esses programas que hoje foram ampliados começaram naquele tempo. Com o Plano Cruzado (1986), tive a coragem de colocar minha cabeça a prêmio, com o congelamento de preços. Procuramos outro caminho que levou ao Plano Cruzado, ao Plano Verão, ao Plano Collor e até ao Plano Real. O Plano Real, já naquele tempo, esteve em nossas mãos, mas não havia mais tempo para implementá-lo, pois eu estava deixando a Presidência da República. Essas conquistas me fazem muito orgulhoso de minha vida pública.

Perfil...

Entrevistado. José de Ribamar de Araújo Costa, o José Sarney, tem 84 anos de idade, é advogado, jornalista e escritor. Começou a vida política ainda estudante do Colégio Liceu, em São Luís (MA), tendo depois chegado a suplente de deputado federal, até vencer uma eleição para a Câmara Federal, e depois se elegeu governador do Maranhão, depois senador. Nos anos 1980 se engajou na campanha pelas eleições diretas e pouco depois compôs como vice a chapa vitoriosa do presidente Tancredo Neves, que faleceu antes da posse. Sarney assumiu as rédeas do país e conduziu o período da redemocratização, da Constituinte e da volta das eleições diretas para Presidente. Depois foi eleito senador pelo Amapá e está no terceiro mandato consecutivo. Não disputa a reeleição.

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