Michel Temer. O presidente da república admite pela primeira vez ser candidato à reeleição. (Foto: Frederic Jean) |
Carlos José Marques, Sérgio Pardellas,
Germano Oliveira e Rudolfo Lago
O senhor pensa em ser candidato?
O que tem acontecido, ao longo do tempo, é que muitos têm dito que isso precisa continuar. “E quem pode continuar melhor do que você?”, perguntam. Tem havido muito isso. De outro lado, terei como defender o que fizemos no governo. Porque se chega alguém que vai destruir o que fizemos, ele vai destruir necessidades do Brasil. Como vou abandonar tudo isso? Estou nisso há trinta anos. Fui presidente da Câmara. Fui presidente do partido.
Sua principal motivação hoje é tentar defender a sua reputação pessoal ou o que senhor chama de “legado” do seu governo?
Mais importante é a continuidade daquilo que está sendo feito. Mas são as duas coisas. Desde o primeiro momento, quando apareceu a tal gravação… Na gravação, passaram a usar uma frase que não existe. “Eu dou dinheiro para o deputado fulano para manter o silêncio dele”. E a frase não era essa. Era: “Estou de bem com fulano”. E eu respondo: “Tem que manter isso”. O resto foi tudo monossilábico. Eu resolvi me defender nos aspectos morais. A Presidência da República é uma coisa honrosa especialmente pelo que fizemos pelo país. Mas é muito desonroso a destruição da sua reputação moral. E isso foi o que tentaram. Essa tentativa da destruição moral ajuda na história da impopularidade. Porque as pessoas têm vergonha de dizer que apoiam. Isso perturbou, na verdade, o próprio governo. Mas não perturbou o meu governo. Porque eu disse desde o começo: eu não vou me omitir. Se eu tivesse me omitido, teria me autodeclarado culpado.
Essa sua disposição naturalmente desenha um quadro favorável a que a candidatura se consolide.
É natural que quem preside a Nação dispute a eleição. Eu até ouvi recentemente alguém me dizer que não disputar a reeleição seria uma covardia. Que eu teria me acovardado. Governar por dois anos e meio e não disputar a reeleição. O que seria um fato ímpar no País. Desde que foi criada a reeleição, todos disputaram.
O senhor também sente que seria covardia?
Seria. Acho que seria uma covardia não ser candidato. Porque, afinal, se eu tivesse feito um governo destrutivo para o País eu mesmo refletiria que não dá para continuar. Mas, pelo contrário, eu recuperei um País que estava quebrado. Literalmente quebrado. Eu me orgulho do que fiz. E eu preciso mostrar o que está sendo feito. Se eu não tiver uma tribuna o que vai acontecer é que os candidatos sairão e vão me bater. E eu vou ter que responder. Só que não vou ter tribuna. Seria uma continuidade daquilo que está efetivamente sendo feito para o Brasil.
Colocada a candidatura, como fica a relação com o PSDB, que tem Geraldo Alckmin como aspirante ao Planalto, e com os demais partidos de centro que integram o governo?
O ideal dos ideais é que houvesse uma candidatura de centro, uma candidatura de extrema-direita, se for o caso, uma candidatura de esquerda. No máximo, três ou quatro candidatos. Mas o que estão no horizonte são doze, treze candidatos…
Já estão colocadas 15 candidaturas…
Interessante é que muitas delas nasceram por força da atuação governamental. Porque são pessoas que participaram do governo. E, nesse particular, acho que tivemos a sabedoria, por força do diálogo, de unir as forças.
O Alckmin disse que manteria sua equipe econômica. O Henrique Meirelles (ministro da Fazenda) e o Ilan Goldfajn (presidente do Banco Central). E o senhor, manteria?
Sem dúvida.
Dentro da sua estrutura governamental, está colocada a intenção de candidatura de seus auxiliares: o ministro Henrique Meirelles e o Paulo Rabelo de Castro, do BNDES. Como o senhor acomodaria esses planos?
Em primeiro lugar, eu devo dizer que eles têm todo o direito de disputarem e participarem se quiserem. Mas este é um governo de diálogo. Nós vamos conversar muito.
Lula estará fora da eleição, porque virou ficha suja. O senhor acha que ele fora do jogo eleitoral favorece mais uma candidatura de centro?
Hoje, Lula lidera as pesquisas. Mas pesquisa abrange cerca de 40% do eleitorado. Lula tem 20%. Ele tem 20% de 40%. O restante do eleitorado ainda não tem definição. Com todo o respeito que tenho pelas pesquisas, elas não são indicativo do que vai acontecer na eleição. Mas ninguém pode negar que ele tem prestígio e que tem voto. Outra coisa interessante é que ele foi declarado inelegível e ninguém desfrutou desse fato, herdou essa votação.
Desde o início da era Lula, as oposições ao PT nunca conseguiram ter muita capilaridade no Norte e no Nordeste. E se diz que isso acontece porque o Norte e o Nordeste são muito abandonados por um setor da política brasileira. No caso da sua candidatura, como é que essa lacuna seria tratada?
Nós temos feito muito pelo Norte e pelo Nordeste. A própria obra de transposição do São Francisco, que é uma obra de muitos, começou lá atrás, teve sequência muito ágil no meu governo. As obras estavam paralisadas. Não havia pagamento às empreiteiras. Nós retomamos. Já colocamos mais de R$ 1 bilhão na transposição. Nós inauguramos o Eixo Leste, que alimenta parte de Pernambuco e da Paraíba. Campina Grande (PB) sofria com a falta de água. Nós acionamos várias fases do chamado Eixo Norte. Agora, mais proximamente, vamos concluir o último estágio que vai levar água para o Ceará e para o Rio Grande do Norte. Ao mesmo tempo, não podemos esvaziar o rio São Francisco. Nós vamos revitalizar o rio São Francisco. Revitalizar as bacias que alimentam a transposição do São Francisco.
Muitas vezes, a população não liga a realização ao responsável por ela.
É preciso divulgar mais o que tem sido feito. A população reconhece o que está sendo feito, mas ainda não há uma conexão com a minha figura. Preciso conectar o que foi feito, o que foi aplaudido, o que foi elogiado, à minha figura. Em todas as áreas, o que foi feito depende da minha atuação.
Como se faz adequadamente uma campanha política de reeleição e a gestão do País em paralelo? Essa é uma ginástica que muitas vezes o mandatário precisa fazer para não misturar as estações, ser acusado de uso da máquina. Como seria a forma mais adequada de conduzir?
Hoje, o prazo da campanha facilita muito. Nós temos uma campanha de apenas 45 dias. A preparação da campanha começa antes. Mas só pode ser acusado de uso da máquina, oficialmente, nesses 45 dias. E muita coisa está para ser inaugurada. Amanhã, vou a Irecê, na Bahia, e depois Petrolina e a Recife. Irecê, um grande evento do sistema de integração nacional, de irrigação. Depois, em Petrolina lançando a campanha de redução do preço do milho. Depois, vou a Recife por insistência da Fiat. A Fiat vai abrir o terceiro turno e vai contratar milhares de novos funcionários. Mais um sinal da recuperação da economia. Eles estão insistindo muito para que eu vá lá. Recuperar, enfim, essa associação das realizações com a minha imagem.
O senhor só tem 6% de popularidade. Não é pouco para quem quer ser candidato?
Já dobrou 100%: de 3% para 6%. Agora, se aumentar de 6% para 9%, já aumenta 50% (risos)… Olha, faço uma distinção entre medidas populares e medidas populistas. As medidas populistas muitas vezes geram popularidade. Nós resolvemos enfrentar temas áridos. Os temas áridos produzem um bom efeito a médio e longo prazos. Daí, vem a popularidade. Aí que se distingue o populismo da popularidade. Não adotei nenhuma medida populista. Não conduzi a Presidência como se estivesse conduzindo um carro alegórico. Sempre tive muita responsabilidade. As medidas necessárias, estruturantes, podem ser reconhecidas e se tornarem populares mais adiante.
Perfil…
Entrevistado. Michel Miguel Elias Temer Lulia tem 78 anos de idade, é advogado e escritor, atual presidente da República após o impeachment de, Dilma Rousseff. Exerceu também os cargos de presidente da Câmara dos Deputados, deputado federal, secretário da Segurança Pública e procurador-geral do estado de São Paulo. Filho de imigrantes libaneses que chegaram ao Brasil na década de 1920, Temer nasceu e foi criado no interior paulista. Em 1963, graduou-se em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), onde atuou ativamente na política estudantil. Na disputa presidencial de 2010, foi escolhido para candidato a vice de Dilma Rousseff. Com a vitória de ambos, foi empossado Vice-Presidente da República em janeiro de 2011.
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