Cabuçu Borges assume que pinta o cabelo “para manter o personagem” (Foto: MDB Nacional/Flickr) |
Cantor, humorista e autêntico exemplar do baixo clero no Congresso Nacional, o deputado Luiz Gionilson Pinheiro Borges (MDB-AP), de 54 anos, discorre sobre as mazelas de não pertencer à elite parlamentar e ter de preservar o Cabuçu
1. O que é ser baixo clero?
É uma boa pergunta. Pelo que eu entendo de baixo clero e alto clero, é o nível de acesso que você tem. Normalmente, alto clero são os líderes, que são os porta-vozes e, nesse sentido, estão na dianteira, levam uma densidade maior para poder nos representar. E também há a questão da antiguidade, são deputados mais experientes e que, portanto, têm um entendimento melhor.
2. Qual o aspecto negativo de pertencer ao baixo clero?
Aqui na Câmara, ninguém ensina nada para ninguém, e todo mundo puxa a brasa para sua sardinha. Apesar de minha família ser da política, tive de trilhar meu caminho sozinho. Seria bom ter recebido algumas dicas. Por exemplo: chegue aqui e passe seis meses observando, seja presente em plenário, busque informações sobre como funcionam as comissões. Ter algum conhecimento sobre o regimento da casa, para saber o que é pln (Projeto de Lei do Congresso Nacional), o que é pl (Projeto de Lei), essas siglas que normalmente são faladas e a pessoa é que tem de buscar explicação, para não ficar “aru”, como se diz na Amazônia. Aru é uma pessoa sem norte, sem muita noção.
3. O que mais chateia o baixo clero?
É igual a prefeito quando chega a Brasília. Se ele não tem um parlamentar, dificilmente vai conseguir circular. O parlamentar é tipo o abre-portas. Não é que eu me considere baixo clero, mas há muitos parlamentares que, quando chegam aqui, vão meio que tateando no escuro. Por isso, a renovação não pode ser acima de 50%. Porque o Congresso tem de ter seu lado experiente funcionando, senão vira um pandemônio.
4. O senhor acha que deveria haver uma lei limitando a renovação dos deputados na Câmara?
Funcionar, a Câmara sempre vai funcionar, mas a experiência conta. De onde vim, o cabelo branco é sinal de reverência, e levo isso muito em consideração. No meu caso, meu cabelo é natural. É Natural Colors (risos).
5. Qual é o tom de sua tintura?
Acho que é o 3.0, castanho escuro. Mas vou te explicar por que pinto não só o cabelo, como também a barba: cabuçu, no Amapá, quer dizer caboclo ribeirinho. E, quando vim candidato, eu fazia um programa regional chamado Os cabuçus. Então, não posso envelhecer o Cabuçu. Não é por vaidade, mas por manutenção do personagem (risos).
6. Alto e baixo cleros se misturam fora do plenário? Onde?
É justamente isso. Quem é que você quer que esteja perto? É quem tenha mais algum sentido de influência. Isso é natural do ser humano. E eles se agrupam. Mas tenho tido um trânsito muito bom, participado de grandes rodas, com políticos hipoteticamente bem conceituados. Um cara por quem tenho um carinho e uma admiração, que é um bon-vivant e que sempre promove encontros, é o deputado Fábio Ramalho (MDB-MG, vice-presidente da Câmara). Acho legal isso nele, vamos à casa dele. É salutar. E a gente vai mesmo só para confraternizar, tomar um bom vinho, discutir, trocar uma ideia.
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