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DORA. A ex-vive-governadora fala na Diário FM sobre seu mais novo projeto político: ser prefeita de Macapá. |
Dora Nascimento surpreende muita gente nessa entrevista em que confirma ser pré-candidata nas eleições deste ano pela sucessão municipal em Macapá. A ex-vice-governadora na gestão de Camilo Capiberibe (PSB) revela mágoas daquele período, especialmente quando foi preterida por um nome do PSOL para compor a chapa da reeleição do então governador e pior, também na reta final daquela disputa de 2014, quando foi acomodada numa candidatura ao Senado. É que a cúpula do PSB teria determinado que a militância despejasse esforços em eleger Davi Alcolumbre (DEM), numa manobra para evitar que o inimigo do clã Capiberibe, o ex senador Gilvam, pudesse ser eleito. Segundo Dora, tal decisão hoje deve ter sido analisada como um erro dos antigos aliados. Mas diz estar firme no propósito de alçar voo solo, rumo à PMM.
Cleber Barbosa
Para o Diário do Amapá
Diário do Amapá – A senhora acaba de se lançar pré-candidata do PT à prefeitura de Macapá. É isso mesmo, tudo confirmado? Seja bem vinda.
Dora Nascimento - Eu que agradeço pela oportunidade está aqui falando com vocês. É isso mesmo.
Diário – Como foi que nasceu esse projeto de concorrer à prefeitura de Macapá?
Dora – Eu acho assim, a gente vive hoje numa conjuntura nessa questão de política para a mulher entra ano, sai ano, a gente tem uma luta histórica nessa questão sou ativista dos movimentos das mulheres eu que venho de uma questão que é histórica de militância; a minha formação foi lá nos movimentos sociais e dentro desse movimento a gente sempre incentivou as mulheres a participar mais da política e hoje através de dados você percebe que ainda temos uma participação muito pequena da mulher e como a gente vive em um regime democrático, tanto mulheres como homens a gente luta muito pela questão da igualdade de oportunidades, então eu resolvi lançar meu nome como pré-candidata à prefeitura. Vem dessa experiência de ter sido vice-governadora do Estado. Eu sempre digo para as nossas mulheres que não devemos nunca nos deixar intimidar e hoje a gente vê que muitas dessas conquistas já estão acontecendo as mulheres estão alcançando cargos importantes.
Diário – Vem de uma política de gênero também?
Dora – Nós precisamos incentivar outras mulheres, mostrar que a mulher tem capacidade; mulher quando entra para a política, e os dados mostram isso, os resultados aparecem. Mas vivemos em uma sociedade muito conservadora.
Diário – Machista a senhora diria?
Dora – Sim, machista e conservadora. O Brasil ainda é muito conservador. Nesse contexto o trabalho nosso é dobrado porque nós temos que provar dez vezes nossa capacidade, mas esse é um processo histórico que vem desde lá dos anos 80, passando por diversos processos de formação, mas felizmente hoje a gente percebe que tem muitas mulheres na política e a principal delas, claro, é a presidenta Dilma. Precisamos quebrar esse paradigma ou seja temos uma mulher na presidência, resultado de um trabalho árduo muito intenso dentro do próprio segmento e que ganhou o reconhecimento da sociedade.
Diário – Existe essa política de gênero até nas regras da eleição, pois o legislador colocou uma regra que garante a participação das mulheres nos partidos em um percentual de 30% de vagas que devam ser destinadas a elas.
Dora – É, só que nós estamos lutando para aumentar para 50%.
Diário – Mas na prática essa participação ainda não produziu resultados, pois no Congresso Nacional elas são menos de 10% das cadeiras.
Dora – Os próprios partidos políticos têm muitas dificuldade. Eles têm que estar recrutando mulheres para o preenchimento desse percentual de candidaturas. Eu diria que é uma questão cultural, a política é coisa bem recente, elas passaram a poder votar e ser votada a pouco tempo, é coisa bem recente se formos fazer uma contextualização histórica no Brasil comprovaremos isso, então é importante elas participarem da vida ativa do país, é importante elas virem para esses espaços de poder, pois as mulheres tem um jeitinho especial de lidar com as coisas.
Diário – E as mulheres são a maioria do eleitorado brasileiro. Se essa ficha cair elas não perdem nunca mais uma eleição para os homens.
Dora – É... [risos] E só quem participa da política sabe das dificuldades, dos preconceitos, do tipo de coisa que a gente ouve nos bastidores; mas não devemos desistir, eu tenho certeza que um dia esses resultados virão, pode nem ser agora com a Dora mas pode ser mais à frente com a Joana ou com a Maria, outras mulheres, o importante é começar, importante que alguém venha e mostre que isso é possível e que nós temos essa capacidade.
Diário – Haverá um evento oficial de lançamento da sua pré-candidatura?
Dora – Ah, com certeza isso tá vindo do partido a nível Nacional pois você sabe que existem várias correntes dentro do PT.
Diário – A sua corrente qual é dentro do partido?
Dora – Hoje eu faço parte da CNB que significa Construindo um Novo Brasil, é uma das maiores correntes, oriunda do PTLM que quer dizer Partido de lutas e massas, mas recentemente houve uma fusão no Brasil com a CNB que é é maior corrente no âmbito nacional a qual inclusive pertencem governadores, ministros e o próprio presidente Lula.
Diário - Então ainda não há data para o lançamento da sua pré-candidatura?
Dora - Pois é dentro do partido nós temos vários processos ainda vai abrir o período de prévias inclusive o nosso calendário eleitoral vai abrir agora no dia 5 de abril e a partir disso eu vou inscrever meu nome como pré-candidato e se houver outro nome nós vamos abrir uma disputa interna para homologar o nome do partido.
Diário – Há notícia de um outro nome dentro do partido?
Dora – Eu acredito que não. A própria questão do meu nome é algo muito recente, aconteceu agora, nós estamos retornando de um evento do partido lá no Rio de Janeiro no aniversário do PT e o partido baixou uma resolução de que nós teríamos ter candidatos em todas as capitais e aí eu fui chamada pelo núcleo político do meu partido para colocar meu nome à disposição do partido aqui em Macapá.
Diário – É comum os candidatos não admitirem abertamente que são para candidatos, aí colocam isso sempre como uma imposição do partido, enfim. Com a senhora em particular, a senhora quer ser prefeita de Macapá?
Dora – Certamente que sim, eu como moradora da cidade de Macapá tenho essa pretensão, como todos sabem, fui vice-governadora é um cargo em substituição, a gente não tem muita autonomia, então eu me minha vida para isso um preparo técnico um preparo, político.
Diário – A formação da senhora é em que área?
Dora – Eu sou geógrafa. Tenho mestrado em gestão pública também. Há muitos anos que eu fiz essa formação e hoje eu faço uma pós em políticas públicas. Mas eu acho que independente de você ter estudo ou não, é algo relativo, pois o próprio presidente Lula que tinha apenas a quarta série chegou ao cargo mais importante, foi presidente do país e mostrou que independente de você ter ou não escolaridade, quando você assume um cargo público tem que ter responsabilidade com a gestão pública, fazer com que as pessoas ajam com responsabilidade. Fazer com que ocorram as transformações as pessoas quando elegem um governante esperam.
Diário – Essa experiência como vice-governadora, na história recente do Estado nós tivemos vices que tinham uma participação mais ativa na gestão, inclusive assumindo algumas secretarias, isso não aconteceu com a senhora, não teve esse espaço?
Dora – Não, não! A gente quando assumi a vice-governadoria foi mais uma questão de acordos entre grupos, como disse, de correntes dentro do partido, para que a gente pudesse compor na vice. O ex-governador Camilo tinha muitas atividades, viajava muito e eu resolvi me limitar apenas ao protocolo do cargo de substituir o titular, o que aconteceu várias vezes, mas como disse, o vice não tem muita autonomia, é diferente de você ser o gestor principal, de você ter a caneta e poder tomar as decisões do Estado de acordo com as suas convicções.
Diário – Ficou alguma rusga, alguma diferença daquele período, ou até depois na disputa pela reeleição quando a senhora teve seu nome ´preterido na chapa para dar lugar a um vice indicado pelo PSOL. Muita gente fala que sua candidatura ao Senado foi vítima de uma siposta traição, na reta final da eleição a cúpula do PSB decidiu carrear votos na candidatura do hoje senador Davi. Ficaram mágoas mesmo?
Dora – Certamente que ficaram. Mas lógico que em política a gente a gente não deve guardar rancor. Isso serviu para mim como uma grande experiência. Eu fiquei apenas frustrada como mulher, pois hoje a gente percebe que todo mundo fala em política de gênero, principalmente agora pelo Dia Internacional da Mulher; fazem grandes discursos para as mulheres, mas na hora de apoiar uma mulher a gente percebe que se trata apenas de discurso, porque na prática não. Todo mundo percebeu isso, a própria população no decorrer da campanha. Eu abri mão da vaga de ser vice-governadora para concorrer ao Senado. Mas eu acho que o próprio partido PSB, eu já comentei isso em outros locais, que já deve ter feito uma reflexão e visto que talvez a sua estratégia pode ter sido errada, porque no momento do auge, quando está empolgado, por uma rixa que eles tinham com PMDB né, talvez para não eleger o ex-senador Gilvam Borges, acabou mesmo descarregando os votos no Senador Davi, que inclusive eu quero aqui dizer que não tenho nada contra ele, que inclusive torço para que ele faça um bom governo, uma boa gestão no Senado Federal, torço muito por ele, um jovem amapaense, assim como também todos os outros que concorreram comigo.
Diário – Esclarecido então.
Dora – É, foi uma experiência, como mulher eu até evito falar dessa questão porque foi assim algo muito frustrante, mas eu não me intimidei, estou aqui lançando o meu nome como pré-candidato à prefeitura de Macapá, porque eu acredito que é uma cidade muito bonita e que inclusive já foi chamada de cidade Joia da Amazônia.
Diário – A senhora é macapaense?
Dora – Sim, sou. Assim, meu pai diz que eu nasci na beira do rio... [mais risos] do Rio Matapi, mas desde bebê, desde criança a gente nem mora aqui na cidade de Macapá, aqui que a gente cresceu, se criou.
Diário – Olha, a senhora disse que não gosta de falar esse episódio e, de fato, a própria expressão corporal da senhora demonstra isso, seus olhos, mostram o quanto fica incomodada quando trata desse assunto daquela eleição de 2014. Assim como não dá pra deixar de pedir pra senhora comentar o atual momento do seu partido, o PT, às vésperas de um domingo que pode ser de novas manifestações contra o partido e o governo da presidente Dilma. Como é levar o número 13 para que o eleitor novamente deposite confiança em uma proposta petista?
Dora – Eu vejo assim, onde o PT governa, seja estado, esteja em prefeituras, tem resultados positivos de transformações sociais. Os dados estatísticos estão aí para comprovar isso. O cenário atual a gente observa principalmente em relação à figura do presidente Lula, é um choque muito grande para a gente do Partido dos Trabalhadores que desde 2002 assumimos as rédeas do país com ele, como eu falei, um operário que promoveu transformações políticas, econômicas e sociais grandes. A gente conseguiu tirar centenas de pessoas da exclusão social; eu mesma venho de uma família muito simples; a gente às vezes quando olha o passado e o presente vê que muita coisa mudou; agora lógico que dentro desse contexto, dentro desse cenário da política nacional, a gente vai perceber que há interesses por trás disso, essa crise ela começou praticamente quando o Brasil descobriu esse ouro que é o pré-sal, há interesses nacionais e internacionais também.
Diário – De mercado, é isso?
Dora – Sim, se hoje o Brasil ocupa a sétima, a sexta posição entre as maiores economia mundial, com o pré-sal talvez a gente chegue no topo, fique entre a terceira ou a segunda, então é uma questão que a sociedade precisa entender qual o verdadeiro pano de fundo que está por trás disso. Só disso uma coisa para vocês: sou filiada ao Partido dos Trabalhadores a muitos anos, venho de movimentos sociais, até porque o PT quando foi criado veio lá dos movimentos eclesiais de base, nos movimentos sociais, com intelectuais, com vários companheiros nossos valorosos que hoje ainda estão aí. Então a bandeira que nós defendemos é de melhoria para a sociedade, mas infelizmente o PT é como uma família, então se um irmão meu se envolve em alguma coisa, será que todo mundo está nessa vala comum?
Diário – Entendo, até porque o próprio texto constitucional diz que até que se prove o contrário todos são inocentes perante a lei, mas e com relação a petistas que foram de fato condenados por exemplo no escândalo do mensalão? Houve também jogo de interesses ou esses maus irmãos seus possam ter cometido seus pecadinhos?
Dora – [Risos] Olha, sobre o mensalão esta semana mesmo foi dado o perdão tanto para o Delúbio quanto para o João Paulo, o ex deputado federal. E dentro do meio jurídico há quem afirme categoricamente que não houve provas e se você for ver do mensalão para cá você vai ver que os delatores vão lá, falam e fica aquilo como se fosse verdade, não tem uma base consistente de provas. Eu até estava lendo comentários do ministro do Supremo, a maior Corte do país, o ministro Marco Aurélio fala claramente que o que aconteceu recentemente com o presidente Lula, que não foi intimado. Ninguém está acima da lei, claro, só que a lei não pode também ser violada.
Diário – Para fechar, se o canto da sereia, digamos assim, do PSB, vier novamente com uma proposta de composição com o PT, um aliado histórico, a senhora subiria novamente no mesmo palanque?
Dora – Eu acho muito difícil, mas isso vai ser uma decisão como eu expliquei pra você anteriormente, do diretório estadual, ele tem os dirigentes, então qualquer tipo de coligação, com quem a gente vai coligar, para qual palanque a gente vai, enfim, será a executiva nacional e não eu Dora, agora tenho uma convicção, uma opinião, hoje a Dora diria que não tem o menor interesse em fazer essa parceria.
Perfil
Entrevistada. Natural de Macapá, no Amapá, Doralice Nascimento de Souza nasceu em 1967, é formada em Geografia pela Universidade Federal do Amapá (Unifap) e pós-graduada em Gestão Pública pela Universidade de Brasília, e em Planejamento Urbano e Geografia Humana pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Suas origens como agente pública vieram ainda em movimentos sociais, especialmente daqueles voltados para a difusão das políticas por igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Em 2010 foi eleita vice-Governadora do Amapá, na chapa de Camilo Capiberibe. Em 2014 concorreu a senadora da República, logo após deixar o posto de vice natural na chapa de reeleição do titular, algo polêmico à época.