Felipe Gutierrez. Para o representante da Conservação Internacional, há ameaças aos rios do Amapá. |
Cleber Barbosa
Da Redação
Diário do Amapá – Você é natural do estado de São Paulo é isso?
Felipe Gutierrez – Sou de São Paulo, exatamente. Sou engenheiro florestal formado em Piracicaba, interior paulista.
Diário – Como surgiu na sua vida essa missão de vir representar a Conservação Internacional em Macapá?
Felipe – Fiquei muito feliz com essa oportunidade, pois sempre tive vontade de trabalhar na Amazônia e a história do Amapá surgiu há um sete ou oito meses quando fui convidado e participei de um processo de seleção, fui selecionado e resolvi encarar o desafio de trabalhar com as questões ambientais, florestais, desenvolvimento rural, clima, recursos hídricos, conservação da biodiversidade, trabalhar com gente, coma s comunidades tradicionais, com populações ribeirinhas, extrativistas, quilombolas, enfim.
Diário – Qual é o papel Conservação Internacional e sua missão no Amapá?
Felipe – Ela é uma Ong internacional presente em mais de quarenta países. Especificamente no Brasil atua há mais de 23 anos, em diferentes estados, em diferentes biomas do Brasil, principalmente Mata Atlântica, gostaria de citar o Cerrado. Tem um programa chamado Programa Marinho Costeiro, com nossa sede na região de Caravelas, em Abrólios, onde se trabalha todo o ordenamento costeiro, criação de reservas extrativistas marinhas. Mas especificamente aqui com o Programa Amazônia tem uma sede em Belém e aqui no Amapá. Aqui a gente tem uma atuação há mais de dez anos, diretamente ou indiretamente ligada a diversos programas e atividades, como na criação do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, a própria criação da Floresta Estadual do Amapá, a Floresta Nacional do Amapá também, a criação do Corredor da Biodiversidade do Amapá, que é um bloco um mosaico do uso do solo, que foi criado em 2003 se não me engano. Apoiamos na criação do PPGBio, que é um programa de pós-graduação relacionado à questão da ecologia e conservação na Unifap, por volta de 2006. Apoiamos também algumas expedições na questão de inventário de fauna e de flora, bastante pioneiras no Estado, com Iepa e Embrapa.
Diário – E as ações mais recentes?
Felipe - Mais recentemente, nos últimos cinco anos, apoiamos no estabelecimento da Floresta Nacional do Amapá e posteriormente o Plano de Manejo, aprovado depois de dois anos de luta para sua elaboração, em parceria com o Instituto Chico Mendes entre outras organizações. Estamos apoiando também a Secretaria do Meio Ambiente e o Instituto Estadual de Florestas no estabelecimento mesmo da política florestal do estado, relacionado às questões de concessões florestais, o estabelecimento da Floresta Estadual do Amapá, as concessões, como é que serão feitas as explorações nessa unidade de conservação. Junto com a Sema conduzimos recentemente o Fórum Amapaense de Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais para discutir exatamente isso, políticas
ambientais, políticas climáticas.
Diário – Quando você fala em apoio o que isso significa? A Conservação é um órgão consultivo, de aconselhamento, de onde vem o dinheiro dela?
Felipe – Eu costumo dizer que a gente trabalha como articulador, como facilitador. Como meio de campo, a gente não está lá no ataque, mas também não está na defesa. Estamos no meio de campo, fazendo essa ponte. Os recursos provêm de diferentes fontes. A Conservação Internacional do Brasil ela tem através da Sede nos Estados Unidos, ela tem um fundo para conservação mundial, que é redistribuído para as sedes nacionais, essa é uma das fontes. A gente tem bancos internacionais, como na Alemanha, entre outros, como mais recentemente um projeto com um fundo francês para o meio ambiente. A ideia é exatamente essa, em parceria com a sociedade civil, com suas organizações, com governos também.
Diário – O Amapá se propõe a ser o Estado brasileiro mais preservado. A Conservação Internacional reconhece essa condição dele?
Felipe – Com certeza, o Amapá tem 14,3 milhões de hectares, o equivalente a 14,3 milhões de campos de futebol, é uma região muito grande né? Você tem aí 2% de representatividade a nível nacional e você tem 73% do estado como áreas protegidas, então unidades de conservação, por exemplo, parques nacionais, reservas extrativistas, florestas estaduais, florestas nacionais, áreas de proteção ambiental, terras indígenas, reservas particulares, enfim. Você tem uma cobertura vegetal, uma cobertura florestal bastante preservada. Já escutei diferentes estatísticas, mas seguramente mais de 90% de cobertura florestal preservada.
Diário – O Amapá ostenta o título de estado mais preservado, no entanto se recente de mais indústrias, com uma participação na composição do PIB muito discreta. Como achar o ponto ideal entre a preservação e a exploração sustentável de nossas riquezas, como a mineração? O Amapá reclama que precisa ser compensado por manter a floresta em pé. O que acha disso?
Felipe – Eu acho que esse é o caminho. Você tem aí um grande dilema, como conciliar a conservação desse patrimônio ambiental natural, toda essa biodiversidade, como você utilizar esse recurso, de uma forma que beneficie tanto o estado quanto a sociedade civil e a população como um todo, né? E a população não são só os grandes empreendedores, a gente está falando das comunidades ribeirinhas, grupos indígenas, quilombolas, da população que vive nas capitais, pois o Amapá tem mais de 85% da população habitando as cidades como Santana, Macapá e Oiapoque. Esses recursos têm que ser utilizados, mas tem que ser conciliado. Quando você fala em mineração, a gente sabe da importância dela, a nível nacional e a nível mundial. Quando a gente fala em agronegócio também sabe da força dele em nosso país. No Amapá não é diferente. A gente sabe desse avanço, impulsionado, por exemplo, pelo PAC da presidente Dilma, entre outras atividades econômicas e projetos de desenvolvimento do país.
Diário – Recentemente a Conservação com diversos parceiros, entre eles a Universidade Federal do Amapá, promoveu um mini workshop voltado a debater a bacia hidrográfica do Rio Araguari. Qual é a preocupação em relação a esse importante rio do Estado?
Felipe – Seria compatibilizar, como unir o desenvolvimento e a conservação. Este é um estudo que começou em 2013 em parceria com diversos órgãos que atual no estado. A bacia do Araguari é a maior do estado, está inteira no Amapá, com 30% de representatividade do estado. Tem 361 nascentes. O Rio Araguari tem 617 quilômetros de extensão, saindo desde a Serra da Lombada no Parque Nacional do Tumucumaque e desagua no Atlântico, onde a gente tem a famosa pororoca. A gente tem nele os desafios relacionados c om o desenvolvimento, pois temos nele três hidrelétricas, Coaracy Nunes, Ferreira Gomes e Caldeirão, além das mineradoras em atuação na região, como a Beedel e a Anglo, agora sucedida pela Zamin Ferrous. Além disso, você tem aí mais de dez garimpos, entre ativos e inativos, e são garimpos ilegais, daí o impacto que isso tem para a qualidade da água e para a qualidade de vida das comunidades que vivem ali. Junto com isso você tem o avanço do agronegócio, como a soja, além da pecuária de búfalos. Na parte baixa do rio você tem a atividade da pesca e o turismo. Essas foram as razões da região da bacia do Araguari ter sido escolhida para esse estudo.
Perfil
Entrevistado. Felipe Veluk Gutierrez nasceu em São Paulo (SP), tem 36 ano de idade e graduou-se Engenheiro Florestal pela Universidade de São Paulo (USP) e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ). Possui mestrado em Conservação de Florestas Tropicais e Biodiversidade, pelo CATIE (Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino), na Costa Rica. Este ano prestou concurso para o processo seletivo para o Programa Amazônia da Conservação Internacional, uma ONG presente em quase todo o planeta e que possui uma unidade no Amapá, da quel tornou-se o gerente regional. Na semana passada liderou e parceria com a Unifap um mini Workshop sobre a preservação da Bacia do Rio Araguari, no Amapá.
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