Ao centro, o general Villas Bôas, novo comandante do Exército. Foto: EB
Eduardo Dias da Costa Villas Bôas e Nivaldo Luiz Rossato tinham 13 anos quando ocorreu o golpe militar de 1964. Eduardo Bacellar Leal Ferreira tinha 12. Os três assumiram neste mês os cargos de novos comandantes das Forças Armadas, a primeira geração que nem sequer estava na fileiras militares quando houve o movimento que derrubou o presidente constitucional brasileiro João Goulart. É a coroação de 30 anos da passagem negociada e sem traumas do poder militar para o civil.
Os novos comandantes assumiram as vagas ocupadas desde 2007 pelo general Enzo Peri (Exército); pelo almirante Júlio Moura Neto (Marinha); e pelo brigadeiro Juniti Saito (Aeronáutica). Ficaram sete anos à frente das tropas e todos já estavam integrados às suas forças quando houve o golpe.
Novo comandante do Exército, o general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, 63 anos, é paulista, foi comandante militar na Amazônia, chefe do Comando de Operações Terrestres, coordenando todas as operações militares em território nacional e adido militar adjunto na China.
Novo comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Nivaldo Luiz Rossato, 63 anos, é gaúcho tem mais de 3,5 mil horas de voo e ingressou na Força Aérea em março de 1969. Na Força Aérea Brasileira, chefiou a Direção de Organização e o Comando-Geral de Operações Aéreas, além do Departamento de Ensino da Aeronáutica.
Novo comandante da Marinha, o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, 62 anos, é carioca e liderava a Escola Superior de Guerra (ESG). Entrou na Marinha em 1971, pela Escola Naval, e exerceu, ao longo dos últimos 43 anos, cargos como o de chefe do Estado-Maior da Esquadra, comandante do 7º Distrito Naval e diretor de Portos e Costas.
A data de entrada nas Forças Armadas pode ser sinal de renovação? Deveria ser, mas nada é tão simples.
Em 2013, o general Villas Bôas proferiu conferência em São Paulo. Quando terminou sua exposição, houve abertura de perguntas para a plateia. Foi quando surgiu a questão: “O que o Exército faria se houvesse ameaça de perpetuação no poder de partido político?”
"Acho que a missão histórica da geração de nossos pais foi a de preservar a democracia no país. O Exército não se arrepende do que fez, mas de certa forma ainda paga pelo que fez. Hoje o Brasil é um país com instituições estruturadas, naquela época não havia instituições, então hoje já temos um sistema de pesos e contrapesos em nosso país… As coisas naturalmente vão se equilibrando. Eu acho que é um erro a gente querer tutelar a sociedade”.
A resposta do general Villas Bôas merece várias restrições. Primeiro, pelo que fez, o Exército não pagou nada. Nem em responsabilidade legal nem em renovação do ideário. A falta de coragem de assumir que golpear a normalidade democrática foi um erro, independentemente dos motivos, é uma outra restrição. Reconhecer que é um erro tutelar a sociedade é pouco, porque não é este o papel constitucional das Forças Armadas.
Internamente, o golpe de 64 é visto como patrimônio por muitos militares. Muitos dos oficiais militares atingiram suas patentes durante o período do regime militar (1964-1985). Existem dezenas de exemplos de filhos de oficiais que participaram do golpe e hoje estão em postos de comando. Incompreensível é a atual geração militar se manter apegada aos erros cometidos pelas gerações que lhe antecederam. Tudo isso dificulta a renovação e o compromisso irrestrito com a democracia.
Mas, lentamente, as Forças Armadas estão mudando. A coronel médica Carla Lyrio Martins assumiu na semana passada como a primeira mulher a comandar uma organização militar da Força Aérea Brasileira. A médica carioca Dalva Maria Mendes foi promovida em 2012 a contra-almirante, o terceiro maior posto da Marinha (depois de almirante de esquadra e vice-almirante) e que só havia sido ocupado por homens. Em 2011, pela primeira vez desde 1905, quando a Escola de Comando e Estado-Maior foi criada, mulheres se formaram no curso, que é pré-requisito para a promoção a general. As majores Carla Maria Clausi, Regina Lúcia Barroso Rangel e Regina Lúcia Moura Schendel ainda terão que trabalhar de cerca de dez anos para concorrer ao generalato.
Quem sabe caberá a essas mulheres oxigenarem às Forças Armadas, fazendo que se identifiquem com as aspirações dos brasileiros que lhes pagam o soldo.
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