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domingo, 4 de janeiro de 2015

“Me reconforta saber que vamos deixar o mandato mas com o respeito da sociedade”.

Em sua primeira entrevista após as eleições deste ano, faz um balanço do mandato e projeta ações futuras.
A deputada federal Dalva Figueiredo (PT-AP) esteve muito próxima de renovar o mandato para ser representante do Amapá no Congresso Nacional, seria o terceiro consecutivo. Na primeira entrevista após as eleições de outubro, ela foi ao programa Conexão Brasília, na Diário FM, ocasião em que falou abertamente sobre esse e outros temas importantes, como as providências que está tomando para que o Governo Federal possa cumprir o prazo de 180 dias para a regulamentação da Emenda Constitucional 79, que foi originada pela PEC 111, de sua autoria. Fiel a seu partido, também defendeu o incremento das ações do governo brasileiro na Ilha de Havana, em Cuba, para onde estão sendo carreados recursos para o incremento do transporte de cargas entre os dois países.

Cleber Barbosa
Da Redação

Diário do Amapá – O seu partido já saiu na frente e lançou candidaturas para a presidência da Câmara dos Deputados não é?
Dalva Figueiredo – Olha, há um acordo na Casa de que a maior bancada é quem indica o presidente da Câmara, faz composições com os aliados, claro, e nesses últimos anos tem havido um acordo entre o PT e o PMDB, com cada partido ficando dois anos à frente da Câmara. Já no Senado é o PMDB quem tem a maioria então tema preferência. Eu acredito que depois do resultado eleitoral, assentadas todas as querelas das disputas locais e regionais, haveremos de construir uma aliança com uma maioria sólida capaz de sustentar a aprovação dos projetos que garantam as propostas de campanha da presidenta Dilma.

Diário – E também as mudanças prometidas?
Dalva – As mudanças também fazem parte dessas propostas dela sim, pois são importantes para o país. A mãe de todas é a reforma política e nós queremos fazer isso através de plebiscito, o PT apoia fazer consultas populares, trabalhar mais a ampliação da participação popular e discutir verdadeiramente a reforma tributária, que e importante do ponto de vista do desenvolvimento econômico e da inclusão social.

Diário – Seus colegas já falam em clima de despedida e a senhora?
Dalva – Estamos em processo de despedida... [risos] Na verdade ainda temos dois meses para aprovar os nossos projetos. É um lugar muito importante [o Congresso] e me emociona muito às vezes dias de quartas-feiras, mesmo que a política nos endureça um pouco, pois a gente tem que ser muito racional. Engraçado isso né? Fruto das paixões, das convicções, mas a gente tem que ser muito racional na política, o que nos torna muito duros às vezes.

Diário – Sim, mas a senhora ia dizendo sobre as quartas-feiras?
Dalva – Quando a gente chega ao Congresso na quarta-feira. Quando chego ali na ala das Comissões, muitas vezes tem movimentos de todos os tipos, em defesa dos direitos humanos, da saúde, quem é contra ou a favor do aborto, questões dos servidores, enfim, cria um clima que quando você entra você sente, sabe? Aquilo ali é democracia pura, você transpira democracia com as diferenças convivendo.

Diário – Falando de um tema bastante atual, como a senhora vê as críticas à decisão do governo em se aproximar de Cuba, onde até um porto está em construção com a ajuda do Brasil?
Dalva – Pois é, muito tem se falado em transformar o Brasil num país Bolivariano, sobre o Porto de Muriel, em Cuba, então eu li um artigo do Jaques Wagner na Carta Capital, em que ele diz aos vencedores não cabe a arrogância nem a soberba e aos que são derrotados pelo voto popular cabe sim o papel de discutir, debater na sociedade com propostas ou com críticas ao projeto que está ali, sem rancor. Então sobre tudo isso primeiro coitado do Simon Bolívar, que foi um grande lutador pela independência das Américas, pregava a igualdade, a liberdade e não tem nada a ver com a República Bolivariana, até porque o Chávez era um grande capitalista, embora tivesse um projeto promova inclusão e a igualdade social.

Diário – E sobre o Porto de Muriel?
Dalva – Sim, as críticas pelo fato do Brasil investir em Cuba é preciso que se diga que são 300 empresas que estão investindo lá e dos US$ 900 milhões de dólares que foram emprestados, US$ 800 milhões foram investidos em projetos e produtos nacionais. Além disso, Porto Muriel vai ser importante para o Brasil entrar num mercado que tem pouca inserção, pois com o alargamento do Canal do Panamá novas empresas estarão ali se instalando, o que é um pouco parecido com o que ocorre com a China, de um projeto mais fechado politicamente mas que abriu o capital, criando um modelo que faz da China hoje um país importante economicamente.

Diário – A senhora foi autora da PEC 111 aprovada no Congresso Nacional, hoje transformada na Emenda Constitucional 79. Como está o processo de regulamentação dela e até onde a senhora ainda vai poder atuar?
Dalva – Olha, ainda durante o período eleitoral eu a senadora Ângela Portela estivemos no Ministério do Planejamento e nos reunimos com a equipe que está elaborando o projeto de lei que vai regulamentar a PEC 111 e que será encaminhada pela presidenta Dilma. Eles estavam na conclusão desse projeto e até a próxima quarta-feira teremos uma resposta de um novo pedido de audiência para nos informar sobre esse desfecho, afinal daqui a vinte dias termina o prazo que o governo tem para encaminhar essa regulamentação. Tanto a bancada do Amapá como a bancada de Roraima estamos atentos, acompanhando e cobrando para que eles de fato encaminhem no prazo.

Diário – O percentual de renovação da atual bancada federal, de 75%, para muita gente não significa necessariamente uma desaprovação dessa legislatura, tida e havida como muito atuante e eficaz. Para a senhora o que foi preponderante para não ter conseguido a renovação de seu mandato?
Dalva – Primeiro eu quero agradecer aos votos que o povo do Amapá me confiou. Eu me sinto profundamente honrada, mas dizer que ganhar ou perder eleições faz parte de quem quer disputar politicamente na sociedade essa confiança. Eu já disputei várias eleições, perdi uma para governadora, fui para o segundo turno e tudo, mas em compensação o povo do Amapá me deu mais dois mandatos de deputada federal. Com relação aos elogios e até lamentações pelo fato de estarmos saindo eu fico até um pouco mais reconfortada de saber que a gente vai deixar o mandato mas tem o respeito da sociedade. Mas não vou deixar a política.

Diário – Fazendo o que, por exemplo?
Dalva – Vou continuar discutindo a política. Estou estudando agora a regulamentação da mídia. Eu não sou da área, mas quero discutir esse tema, pode ter certeza que você irá me ouvir falar a esse respeito.

Diário – O seu partido defendeu isso na campanha de reeleição da presidente Dilma não foi?
Dalva – Exatamente e eu vou encabeçar isso aqui, vou discutir dentro do meu partido, com as mulheres, com todos os segmentos da sociedade.

Diário – E sobre as reformas, a senhora pensa também em debater mudanças nas regras da eleição?
Dalva - Eu respeito profundamente o resultado das urnas. Mas é claro que há um poder econômico muito forte, por isso que eu defendo o financiamento público de campanha. Eu sou funcionária pública e faço política voltada para os projetos, para as propostas, então eu não tenho como bancar um custo de uma campanha grandiosa e ao mesmo tempo tenho que recorrer a doações de empresas privadas e é claro que pra mim seria muito fácil, eu era relatora do projeto de controle de armas e munições, mas quando convocava as reuniões com o presidente e de repente sumiam os parlamentares. Era o meu primeiro mandato e só depois fui entender que a dona Rossi, a dona Taurus operou e esvaziou a Comissão... [mais risos]

Diário – Obrigado pela entrevista.
Dalva – Eu é quem agradeço ao convite. Queria ao final agradecer aos nossos eleitores e dizer que em breve a gente vai se encontrar fazendo as nossas atividades como servidora pública federal.

Perfil

Entrevistada. Maria Dalva de Souza Figueiredo tem 52 anos de idade, nasceu em Oiapoque, onde seu pai servia na Companhia Especial de Fronteira, em Clevelândia do Norte. Formada em Pedagogia com habilitação em Supervisão Escolar, Dalva atuou na Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, no Sindicato dos Servidores Públicos em Educação do Amapá e na Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Estado. Foi secretária de Educação do município de Mazagão, vice-governadora e governadora do Amapá. Em 2010 foi reeleita para o segundo mandato na Câmara dos Deputados, com a maior votação do estado com 20.203 votos mas este ano não registrou a mesma votação e não foi reeleita.

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