Rodrigo Augusto Prando (*)
Não me alegro, em nada, com a decretação da prisão de Lula. Mas, também não estou triste. Na vida social, nas relações entre indivíduos e grupos, somos, sempre, em última instância, responsáveis pelas nossas decisões. Obviamente, Lula tem - e sempre terá - sua dimensão política e o legado de seus governos. No governo, acertou e errou. O problema dele, nos últimos tempos saiu da esfera política e adentrou na seara jurídica. Essa condenação e a prisão decretada é apenas a primeira de outros processos que responde e mas não sabemos o resultado das outras ações. Há para muitos a ideia, uma narrativa petista, de que o Juiz Sergio Moro foi um dos articuladores de uma perseguição, um golpe, contra Lula, um inocente. Mais do que Moro, a prisão de Lula seria uma forma de impedi-lo de voltar à Presidência, uma grande trama, com os norte-americanos. A Globo, a Veja, as elites, enfim, uma avassaladora articulação para defenestrar Lula e os petistas, mas, vejamos: além de Moro, foram outros três desembargadores (TRF-4), mais cinco do TSJ e, ontem, mais seis Ministros do Supremo, ou seja, 15 membros do Judiciário brasileiro, do Juiz de primeira instância aos ministros do STF. Para Lula e os militantes, nada disso teve validade, mas se, ao contrário, ontem, a decisão do HC lhe fosse favorável, a justiça teria sido feita ou reestabelecida.
Lula é um ser político no seu âmago. Advogados, provavelmente, pedirão que se entregue acatando a ordem judicial. Os militantes e o próprio Lula farão, por certo, um evento de caráter político, de resistência, de enfrentamento. Podem querer impedir a prisão de Lula, dando ao Estado, como monopólio legítimo da violência, a possibilidade de usar de forças policiais. Militantes podem enfrentar a polícia e, também, muitos outros podem querer enfrentar essa militância. Nada, nada mesmo, desse cenário é bom para nossa sociedade. Terá Lula e os dirigentes petistas discernimento ou continuarão a enfrentar as decisões judiciais e gerar, ainda mais, beligerância e desrespeito às instituições e à república? Não sei responder, mas não conto muito com discernimento.
Não estou feliz e nem triste. Todos devem responder pelas suas escolhas. Ações humanas não são meramente instintivas: são ações com dimensão moral e com uma capacidade inerente aos humanos, que é, antes de agir, ponderar as consequências e o resultados.
(*) Rodrigo Augusto Prando é Cientista Político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp/FCLAr.
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