José Sarney. Para o ex-presidente a hora de interromper a carreira política foi a decisão mais difícil que já tomou. |
Cleber Barbosa
Da Redação
O anúncio da decisão de parar, em meio à convenção do PMDB.
José Sarney – Depois de 64 anos de vida pública, é o discurso mais difícil para mim. Quando eu ouço a voz de vocês pedindo para que eu fique no mandato, as palavras não vão do ouvido ao cérebro, mas vão do meu ouvido ao meu coração! Brasileiras e brasileiros do Amapá! [aplausos e gritos]
A relação com o povo, em especial os eleitores.
Sarney – Gostaria de agradecer a todos que vieram prestigiar essa solenidade. Realmente, se nós estivéssemos aqui e aí não estivessem vocês, se não tivesse ninguém, nós seríamos apenas uma sobra a olhar para esse Rio Amazonas. Quem valoriza a nossa presença é a presença de vocês.
A decisão de continuar fazendo política, mesmo sem mandato.
Sarney – Estou aqui nesta convenção para a luta. Quando eu aqui cheguei minha primeira palavra foi a seguinte: “Eu vim para servir, não vim para dividir”. Não vou sair da política, vou continuar. O Lula não tem mandato e é ex-presidente com todo o prestígio nacional que ele desfruta. Fernando Henrique não tem mandato e ao mesmo tempo ele é uma presença, com a parcela de liderança que ele tem no país. Eu também, não terei mandato, mas serei um político que terei a minha parcela a nível nacional a serviço do Brasil e do Amapá.
A longeva carreira política e a visão do mundo.
Sarney – Deus me deu uma longa vida, agora ele me pede tempo, para tratar da minha saúde e da minha mulher. As mulheres podem não avaliar em profundidade, mas eu devo confessar, sou casado há 64 anos e de um ano para cá nós atravessamos uma dificuldade muito grande, que me abalou profundamente. Eu dizia outro dia que depois de tanto tempo nós não somos mais dois, somos um. E eu tenho o dever de dar o meu tempo para ajudar a minha mulher num momento que ela precisa de mim. Vocês mulheres são a nossa força, o nosso baluarte, o nosso querer bem, o nosso amor. E quando tudo isso passa, o que um sente, o outro sente. Acho que estou dando um exemplo a todos os homens, fazendo aquilo que a Carta de São Paulo diz: “Homens, reverenciai as vossas mulheres”.
Uma resposta aos adversários, ao seu estilo.
Sarney – A melhor maneira de responder àqueles que querem me ver pelas costas é a vitória de Waldez. Eu também devo dizer que Gilvam foi um grande senador, foi o meu braço direito, perdeu muito o Amapá, pois era ele quem coordenava, ia aos ministérios, tratava desses assuntos todos. Ele vai ter o meu apoio.
A promessa de continuar ajudando o Amapá.
Sarney – Eu não vou jamais deixar a política do Amapá. Aqueles que querem me ver pelas costas, como disse, vão me ver de frente, como nunca, na defesa do povo do Amapá. Eu sempre fui um homem de paz, um homem de diálogo. Nesses anos todos que aqui passaram, nunca vocês ouviram dos meus lábios uma ofensa a quem quer que fosse. Vamos responder ao ódio, às provocações, com o perdão. E vamos responder à inveja, com o trabalho.
Os insultos para sair do Amapá.
Sarney – Deixar o Amapá? Isso nunca! Ninguém pode me botar para fora daqui, isto é um grito autoritário. Por que? Porque a minha presença incomoda, pois eu nunca insulto, não faço mal pra ninguém, nunca fiz. Mas eu trabalho e o povo reconhece o meu trabalho.
O que o Amapá representa para Sarney?
Sarney – O Amapá para mim é ternura, esse povo terno, bom, generoso, de coração grande. Para mim o Amapá é bondade, porque o povo é bom. Para mim o Amapá é carinho, porque eu tenho recebido do povo amapaense esse carinho constantemente. Para mim o Amapá é amor, porque é isso que eu tenho hoje pelo povo do Amapá que durante 20 anos me recebem aqui. Para mim o Amapá é amizade! Amizade dos amigos que fiz aqui e de todos os que ajudaram durante essa caminhada. O Amapá é educação! Porque o povo do Amapá é educado e eu não posso julgar o povo do Amapá pela falta de educação de algumas pessoas compradas para fazer indelicadezas. O Amapá é paz! O amapaense é um povo pacífico, ele gosta da paz, o seu jeito é um jeito de paz e é um povo de fé, basta vez a convivência entre todas as religiões, os católicos e os crentes. É esperança, pois todos têm no peito a esperança de que o seu estado será um grande estado. Para mim essa é uma certeza, de que o Amapá vai ser um dos maiores estados do norte do Brasil.
Como será essa ajuda que poderá dar ao Amapá, mesmo sem mandato.
Sarney – Eu não vou parar não, vou continuar. Vou implantar a Zona Franca Verde que ainda está por ser implantada. A Área de Livre Comércio está funcionando, vamos trazer indústrias para cá, porque o próximo governador vai trazer confiança. Onde não existe confiança o empresário não vai, o capital não chega e ele não vindo não tem indústria, não tem emprego, não tem lucro para ter bons salários para aumentar a arrecadação do Estado.
A relação histórica com o Amapá vem dos tempos da Presidência da República.
Sarney – Ninguém pode rasgar a minha presença aqui. Eu criei o Estado do Amapá quando era presidente. Eu criei, assinado por mim, os municípios de Tartarugalzinho, Santana, Laranjal do Jari. Eu criei a Universidade [Federal] do Amapá, as Escolas Técnicas que estão aí, do Ifap, que hoje servem à juventude. Também foi com o meu trabalho, lutando lá nos ministérios com o prestígio que tinha, que foi possível conseguir a implantação das faculdades particulares também.
A atuação junto ao setor elétrico e o que isso produziu de resultados para o Amapá?
Sarney – Quando aqui cheguei encontrei o Amapá às escuras, com cinco motores com turbinas que vinham da Rússia, que faziam tanto barulho mas que não traziam luz. Hoje o Amapá constróis com a minha ajuda três hidrelétricas, a de Santo Antônio entra em funcionamento agora, com 372 megawatts. A Usina Ferreira Gomes deve entrar em funcionamento até o fim do ano e a Usina Caldeirão foi trabalho junto aos empresários, convencendo e trazendo os interessados aqui. Eu não quis o Ministério da Cultura, do então presidente Fernando Henrique, para pedir a presidência da Eletronorte porque queria trabalhar pela energia do Amapá.
A prestação de contas sobre sua atuação no Amapá.
Sarney – Estamos por publicar um novo livro com todas as verbas que consegui para o Amapá, todas as coisas que por aqui passaram, para que fique documentado.
A carreira literária também envolveu o Amapá.
Sarney – Sou escritor também e tenho 142 livros publicados, saiu agora uma bibliografia minha agora com todas essas obras e as críticas que as acompanham. E eu também com minha vocação de intelectual quis me ligar ao Amapá. Escrevi “A história do Amapá”, que já está na terceira edição e que serve para todos os estudiosos que quiserem saber a história do Amapá. Eu escrevi o romance “Saraminda”, hoje circulando pelo mundo inteiro e no Brasil saiu agora a 17ª dição, na semana passada. E quem é a heroína? É uma mulher do Amapá. Com ela agora se conhece o Amapá no mundo inteiro, as florestas, o Lourenço, o Cassiporé, toda aquela área até o Carnot, através do que eu escrevi nas histórias que ali construí.
Gratidão aos aliados de ontem e hoje.
Sarney – Peço licença ao Waldez nessa convenção para agradecer àqueles que estiveram comigo como os candidatos a governador Bruno Mineiro, o Jorge Amanajás e o Lucas, que durante algum tempo esteve ao meu lado. E quero agradecer às famílias Gurgel, aos Favacho, ao grupo do Moisés e quero agradecer à imprensa do Amapá toda, que sempre me tratou muito bem. É uma grande imprensa, grandes talentos, gente das melhores condições do Brasil.
Perfil
Entrevistado. José de Ribamar Sarney Costa tem 84 anos de idade, é advogado, jornalista e escritor. Começou a vida política ainda estudante do Colégio Liceu, em São Luís (MA), tendo depois chegado a suplente de deputado federal, até vencer uma eleição para a Câmara Federal e depois elegeu-se governador do Maranhão e depois senador. Nos anos 1980 engajou-se na campanha pelas eleições diretas e pouco depois compôs como vice a chapa vitoriosa do Presidente Tancredo Neves, que faleceu antes da posse. Sarney assumiu as rédeas do País e conduziu o período da redemocratização, da Constituinte e da volta das eleições diretas para Presidente. Depois foi eleito senador pelo Amapá e está no terceiro mandato. Anunciou que não disputa reeleição.
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