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sábado, 16 de junho de 2012

Artigo de José Sarney: "Uma questão de humanidade"




Proteger o meio ambiente é uma antiga necessidade da Humanidade, em que está em jogo nada menos que sua sobrevivência. Os dados falam por si. Há poucos dias, o jornal francês Le Monde publicou um quadro sobre a quantidade de água sobre a Terra. Juntando-se toda a água potável numa única esfera projetada sobre o globo terrestre, ela aparece como uma pequena cabeça de alfinete. A imagem transmite, imediatamente, a ideia da fragilidade da vida, que da água é tão dependente. Em 1972, fiz o primeiro discurso no Parlamento brasileiro sobre ecologia, comentando a Conferência de Estocolmo e as graves revelações que pela primeira vez eram feitas num foro mundial. Avisava: “É a primeira tomada de posição da Humanidade, através dos Estados, sobre um problema que se tornou evidente com o avanço da era industrial. Os resultados parecem que foram muito pálidos”. Em 1975, num discurso que chamei de “O momento crítico da Humanidade”, falava sobre o papel dos legisladores: “Cabe a nós, legisladores, com base nas pesquisas, a adoção urgente de política interdependente que possa preservar o Homem, em sua integridade, por meio da preservação do seu habitat.” Foi com essa convicção já amadurecida que, quando presidente da República, criei o Programa Nossa Natureza, primeira operação em larga escala contra queimadas e desmatamentos na Amazônia, e o Ibama. Também fizemos gestões diplomáticas para que o país sediasse a conferência que acabou conhecida como Rio-92. O Brasil, assim, se colocou na vanguarda da luta pela preservação da natureza. Mas medidas propugnadas no Rio, como em Kyoto e outros foros, praticamente foram ignoradas pela violência de um modelo de crescimento econômico do qual vemos hoje a crise atingir como um choque toda a sociedade. A grave crise do meio ambiente deveria ter ainda maior repercussão, pois ela tem consequências a longo prazo que, repito, afetam a sobrevivência da Humanidade. O desafio da Rio+20 é encontrar o difícil consenso universal. Temos que ter a consciência de que é inviável um padrão de consumo que gasta acima da capacidade de renovação da Terra. Temos que acabar com a divisão entre os que têm em excesso e os que não têm nada. Temos que marchar para um modelo sustentável. A sustentabilidade não é uma palavra a mais, mas a chave de nosso futuro.


José Sarney é Presidente do Senado Federal

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